domingo, 16 de dezembro de 2012

"no adeus eu sempre te pertenço"

Apesar de toda a lucidez, de toda a consciência,
epifania, luz e razão
seguimos na crença da posse de gentes, braços e cabeças
e como em uma cruel dança da morte
a musica acaba
e o que era bom, se foi
o perfume que restava voou
com a parte de um ser que restou
na sombra de uma frase
na ponta dos dedos
na sola do sapato
e no rolar dos dados 
de uma dança 
que sem dar nenhuma volta
ainda saiu do lugar

nos confins de uma historia sem fim.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

cativa

As horas passam e não ha ninguém para testemunhar esta bruma de dentro.

*

Após todas as certezas, cada vez mais os objetos desfalecem. Os cristais se enchem de pó e os tecidos adquirem cores mortas, enquanto ressoam o silêncio da noite anterior. O vinho meticulosa e despretensioamente servido, o vapor da pizza que contrasta com a fria temperatura do ambiente. Essas oposições formam uma imagem nebulosa à qual nos apegamos em momentos de solidão.

Eu gosto de estar só, mas não gosto de solidão. Meu nome é ser humano.

*

Preciso continuar minha conversa da virgula. Minha discussão comigo mesmo.

*
As pessoas não sabem, mas enquanto realizam seus movimentos mais banais do dia a dia, me quedo compenetrado e recluso, a fixar uma imagem mental de uma cena qualquer em minha memoria. O jeito de arrumar o cabelo com os dedos da mão direita. O sorriso da chegada no ponto de encontro na carona da bicicleta. A expressão de felicidade com o horizonte absurdo. O "hnnnnn" com o sorvete na boca. 

Estas detalhadas e minusculas figuras do cotidiano constroem o ninho de afeto - refugio nas horas de saudade ao crepusculo, no cair da neve ou nos longos minutos de deslocamento na bicicleta. E pouco a pouco, estas pessoas se adornam em mim, como se me dessem um pouco da personalidade embalada em papel de presente. Ao transmutado olhar de agora, o passado é sempre mais bonito. Mas nem por isso apenas uma percepção falsa, visto que também me construo todos os dias, para mim e para os outros. E o que tenho de ti não é nada além de uma imagem que criei de ti, e o que tens de mim é uma imagem que criaste de mim de acordo com as esparsas e arranjadas ações e informações que forneci. 

O mundo é uma imagem.

Mas te apercebo com carinho e plenitude. E o coração incha e inflama.

Deus, as pessoas entram pela porta, sentam-se e vão embora, e ficamos prostrados na entrada a olhar as costas de uma silhueta que se assemelha a muito pouco daquilo que testemunhavamos antes. Ideias ressoam.

Fechamos a porta, a sós com lembranças do cotidiano.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

tiragem

Muitas vezes é perdido que se acha. Na busca de uma loja no centro, desviando da multidão e de olhares dos muitos ninguéns. Seja na cidade pequena ou grande. Como um cachecol perfeito para o pescoço, adorna-se o pensamento que subtrai. E com a consciência plena, morre uma parte velha da gente - que cutucava, cavocava, fazia um ninho de angustia. E você olha para tras e vê aquele seu pedaço deitado no chão, coberto de sujeira de calçada e com um aspecto do passado. Você não é mais aquela parte. Sortes que ja lhe pertenceram não dizem mais a seu respeito. 

E quando o que você ja fez e pensou não diz nada além de algo que você ja fez e pensou. 

Você é tudo aquilo que tem para frente. Mais pessoas virão, mais olhares desconhecidos, centros de outras cidades, muito sol e chuva. Vez em quando neve e bruma. E outras partes seguem a cair por terra, como fotografias nostalgicas na estante do quarto ou naquela pasta escondida do computador. 

Eu não quero saber. 

Deveras dificil tentar reconhecer-se em imagens cuja veracidade é posta em prova ao entrar em contato com o presente. E aquilo que você pensou parece tão falsificado quanto o barulho de mar que se ouve ao colocar as duas mãos em concha no ouvido. Você é o que deseja agora ou o antes de tudo aquilo que viveu? 

"Os dois!"

Mas a sua maior parte. De si. A inocência e a virgindade do mundo postas à prova. Você na mão de pessoas. E pessoas na sua mão. Amores de uma noite. Amigos de uma tarde. 

A verdade.

Estas partes que caem durante a caminhada são a prova de que a vida segue um percurso do qual não temos tanto controle. E resta-nos olhar para tras, constatar a pele morta no piso e francamente esperar que a pele atual seja melhor do que a anterior.

O quebra-cabeças. Uma parte do mundo dentro de mim e meu ser aos quatro ventos. 

O tempo. Algo que constato e ja passou.

*
Eu passei um semestre dentro de mim, a observar este continente estranho, esta paisagem nova e estas pessoas que na minha latina opinião são frias e distantes. E como a nuvem gorda e negra, chegou minha hora de chover. Eu voltei para o Minha Polaroide.

sábado, 8 de dezembro de 2012

das considerações

Ainda me apercebo confuso ao fazer esforços de manejar este novo eu que toma meus cabelos, meu corpo, meu olhar. E me pega pela mão e formula meus gestos. De onde vêm estas atitudes, a cada dia me questiono. Qual é a gota de agua que faz a represa se soltar? E o lago entra em contato com o mar e faz qualquer coisa de novo.

Conhecer-se e se afirmar ao entrar em contato. 

Com o diferente. 

Serei sempre assim. Ou ao menos até amanha. E também eu estou agora incerto. Hoje vivo em um mundo onde todos habitam castelos magnificos e perfeitos, erguidos com areia de praia. E bebem espumante barata em frageis taças de cristal. 

Em que tipo de terreno me sedimento? 

Ah, o medo da eternidade.



Escrevo em um teclado AZERT. Por consequência, muitos acentos não virão. Mas eu venho, eu sempre venho. A forma e o conteudo. De corpo e alma.