tag:blogger.com,1999:blog-63802269348665206992024-03-06T04:23:41.791-03:00.possibilidadesSobre vida e outros dizeres.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.comBlogger389125tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-62367143916077857862018-04-20T12:01:00.001-03:002018-04-20T12:01:26.023-03:00Limites<div class="graf graf--p" name="096f">
Quando criança, me agradava muitíssimo colocar a mão para fora da janela do carro e sentir o vento atravessar meus dedos. Depois fazia uma prancha, erguia o braço para cima e para baixo, dançava da esquerda para a direita, o membro como um super-herói rasgando o ar, surfando no vento. Não só o braço, mas o corpo todo se tornava leve, como se orientado por uma linha suspensa do céu. Ali eu era um boneco que, precisamente, me movimentava como desejasse. De certa forma, havia a sensação de controlar as circunstâncias. </div>
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<br /></div>
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Por vezes me instrumentalizo e adquiro tamanha consciência de minha finitude a ponto de ver-me tal qual um robô: se estou ansioso, preciso correr por 15 minutos. Se as pernas doem, é hora de alongar os músculos. Devo meditar para aquietar a consciência intranquila. Vou escrever tarefas no papel para aplacar a ansiedade. Deus está no meu corpo e divide comigo a sua onipotência: aperto botões e obtenho disto resultados. Uma máquina de carne e de sangue, com um pouco de medo nas ligas. </div>
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A inteligência do ser humano soa tão banal, de forma que atitudes são gatilhos para acionar ligações entre neurônios, estimular reações químicas que culminam em sorrisos, alívios, tiques, resmungos. </div>
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A juventude me escorre pelos dedos e assisto a tudo de fora, como farelos de areia convergindo em uma ampulheta. Ali há apenas uma saída possível. </div>
Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-50144313356446094882018-04-18T12:44:00.002-03:002018-04-18T12:44:47.238-03:00eu precisovoltar a escrever, deixar meus dedos darem forma digníssima às estranhezas do meu inconsciente. escrevo por ofício todos os dias sobre assuntos quaisquer, dos importantes aos banais, e me esforço para colocar o mínimo de poesia, ainda que seja na mais diminuta reportagem.<br />
<br />
e para isso não digo apenas que a senhora estava cansada de viver décadas de pobreza, digo que a senhora estava tomada pelas marcas do esforço sem muito resultado ao longo tempo, porque, se formos de fato ao ponto mais longínquo, essa é a experiência universal. como uma pedra intocada, somos esculpidos ao longo dos anos nos detalhes mais específicos. surgem linhas na testa, bolsões embaixo dos olhos, vincos ao redor da boca, rancores no lado esquerdo do peito.<br />
<br />
o tempo é tão atencioso, estende sobre nós o seu manto. quando me talha, sinto como se eu fosse o nobre da França, que merecesse muita atenção.<br />
<br />
depois fica tudo escuro, um duro golpe de guilhotina.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-20656938719447632102016-10-03T17:24:00.000-03:002016-10-03T17:24:23.035-03:00então eu desabafei com meu amigo! disse que doía muito me pensar no futuro sem meu ex. uma coisa é dizer, preciso ficar sozinho agora e me descobrir sozinho nesta cidade grande que me faz morrer de medo de ficar. sozinho. quero ficar, sim, sozinho, num tempo curto médio espaço de tempo. <div>
<br /></div>
<div>
mas outra coisa é pensar, e se eu perdê-lo para sempre? nunca mais ter o cheiro dele na minha cama. nem acordar com ele fazendo carinho na minha mão. nunca mais brigar porque levo a discussão até a última barreira da razão. nunca mais cozinhar risoto sem roupas, com ele. nunca mais o cheiro dele depois do sexo. isso me atemorizou de tal forma que uma luva de angústia apertou meu pescoço. </div>
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<br /></div>
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meu amigo disse, é preciso de um tempo até você se enxergar sem ele. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
essa frase reverberou em mim como se eu fosse a água mais calma de um copo, que de repente foi atormentada pela água que jorra de uma torneira. estou ainda beirando ondas, lacônico. </div>
Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-69192840881462810962015-07-31T20:51:00.002-03:002015-07-31T20:51:28.304-03:00para refletirRituais servem para nos fazer refletir se as coisas valeram ou não a pena.<br />
<br />
Pensar: os sacrifícios feitos me levaram em direção à pessoa que desejo ser? Ou no fim das contas me afastei do meu objetivo?<br />
<br />
O mundo é coberto por idealizações. Cristo, como posso saber se entendes o que eu falo? E como sabes que eu sei a que me refiro quando falo de algo? Vivo nessa insensata ilusão de que falo a mesma língua e sinto o mesmo que os outros.<br />
<br />
A vida nos trapaceia. Estranho pensar que, por vezes, nos convencemos de sentir algo e nos atemos a essa crença como se fosse o último raio do dia. Eventualmente esse raio vai embora, e vivemos o luto. A frustração. A decepção. A ansiedade.<br />
<br />
Anos atrás. Eu estava na janela do ônibus quando me dei conta de que nos referimos ao mundo de forma tão prosaica e mundana como se viver fosse um hábito fácil. Como se esperar na parada pelo transporte publico fosse intrínseco ao ser humano. Levantar o braço para atacar o ônibus, algo no meu DNA. Mas esquecemos de que há séculos nada disso existia. Por muito tempo, a noção de entrar em um veículo com desconhecidos era impensável.<br />
<br />
Assim como as pessoas que assistiam às primeiras novelas na televisão e não entendiam o corte dos takes e a estrutura da narrativa. Como pode essa moça estar na sala e um segundo depois na cozinha? Analogamente, eis-me aqui: como posso estar redigindo este texto se anos atrás eu era outra pessoa? Inocente, mais ignorante, menos calejado, mais imaturo. Infantil e leviano.<br />
<br />
Hoje me olho no espelho e encaro a barba que cresce e os cabelos que caem. Meu avô e meu tio maternos eram e são carecas. Será que vou ser também? Meu pai não é. Sempre fui fraco em biologia no colégio e a falta de conhecimento hoje me frustra. Talvez por isso faça matérias de saúde, para compensar.<br />
<br />
Da mesma forma, me pergunto como seria minha vida se tivesse conhecido meu avô. Incrível como a ausência de certas pessoas às vezes marca mais do que a presença de outras.<br />
<br />
Encontro conhecidos na rua que falam de mim inocentemente aos outros. Não faço a minima ideia da imagem que constroem de mim. Da mesma forma, eles não sabem o que penso deles. Convivemos com essa ignorância mútua, pacíficos. Etc.<br />
<br />
<br />Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-77732670391499607332015-07-08T21:07:00.000-03:002015-07-12T10:33:22.316-03:00eu ainda espero por uma noite mágica de Natal<br />
a melancolia bate à porta<br />
Deus sabe eu venho fazendo tudo direitinho tudo<br />
miudinho, tim-tim por tim-tim,<br />
moeda por moeda contada, inclusive controlo<br />
o numero de respirações, um inspiração prolongada<br />
a expiração no dobro do tempo<br />
para ativar todos os chakras do corpo<br />
como dizia meu professor<br />
de yoga magro,<br />
sedutor.<br />
<br />
as palavras<br />
não voltam.<br />
Deus sabe o que faz, fala pelos meus lábios<br />
o Diabo pelos pensamentos<br />
sou um constructo social resultado de múltiplas interações terrenas e divinas<br />
mas meu olhar é perdido<br />
nenhum homem me nota.<br />
entre mim e uma sombra,<br />
preferem a temperatura amena.<br />
sou um elétrico de 220 Fahrenheit.<br />
muito no entretanto,<br />
mais um pouco me poriam para segurar a porta contra o vento.<br />
me transformariam em um vaso de flores para ornar<br />
a mesa kitsch da vó.<br />
as palavras não voltam não<br />
fazem meia-volta<br />
não fazem o que Deus quer<br />
por favor segura meus lábios<br />
<br />
eis-me aqui<br />
estupefato.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-9793431073197958862015-07-08T20:51:00.000-03:002015-07-08T20:51:37.421-03:00você tem que dar para receber<br />
a fruta para o suco ganhar<br />
refrescância<br />
nesta vida você tem que dar<br />
ou vai ver<br />
Deus sabe e cuida provê o que vem<br />
o que vai<br />
como uma curva do rio<br />
você não vê<br />
mas sabe que a vida vai continuar<br />
ela sempre continua a vida<br />
recebe e depois dá<br />
e recebe e vai embora.<br />
<br />Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-58513869664170397002015-02-15T20:02:00.000-02:002015-02-15T20:02:50.909-02:00a primeira vez em que entrei em uma boateA primeira vez em que entrei em uma boate, senti que parte de mim mudara para sempre. Algo se rompia dentro de mim e jamais voltaria ao que era antes. Eu tinha 16 anos, um pouco de barba no rosto, uma carteira de identidade falsa e uma vontade desesperadora de vivenciar minha identidade por completo, o que incluía minha sexualidade. <br />
<br />
Ser um adolescente gay não é fácil. Isso fica mais difícil quando seus pais são intolerantes e tentam proteger você com um amor infinito e ignorante. Entrar escondido em uma boate era muito mais do que ir para um lugar onde haveria gays com os quais eu pudesse (finalmente) flertar à vontade, beber um drinque que não me agradasse no primeiro gole e dançar musicas criadas especialmente para colar na minha cabeça. Era um ato de liberdade. Onde seria possível extravasar parte da minha identidade sufocada em casa.<br />
<br />
Ao som de MGMT, eu encarava caras bonitos na pista de dança e os desejava ardentemente. Ao mesmo tempo, também os admirava, queria ser um deles quando tivesse a mesma idade. Será que eles moram sozinhos? Têm um apartamento próprio com uma planta na sala, pôsteres coloridos na parede, uma cozinha cheia de aparelhos domésticos vermelhos como os da Amélie Poulain? Trabalham em profissões que lhes preenchem, ganham dinheiro suficiente para viajar, mobiliar a estante com livros, comprar chá Twinings e sorvete Kibon Napolitano? Fazem o que desejam sem que os pais diminuam sua autoestima? Aqueles jovens adultos que atraíam o olhar de todos na pista eram o meu desejo de futuro. E eu me esforçaria a partir de então para ficar parecido com eles.<br />
<br />
Algum tempo depois, conheci Bob (não é o nome dele, mas vamos preservar sua identidade), um publicitário de 22 anos, filho de um gay e de uma pastora protestante. Ele era loiro, barbudo, magricela por conta do uso de maconha e tinha uma gengiva desproporcionalmente grande. Mas me tratava como um príncipe e me elogiava "pela inteligência extraordinária para alguém da minha idade", o que era o bastante para seduzir um jovem gay de 16 anos rejeitado pelos pais. Entre uma das frases que mais me marcou, destaco: "Tu vai ser tão bonito quando tiver 22 ou 23 anos. Ninguém vai te parar". Foi o necessário para me fazer acreditar que o amava. E o suficiente para não me importar em irmos ao parque em um sábado à tarde, deitarmo-nos sem querer perto de um cocô de cachorro e eu ignorar o fedor, para não estragar o momento.<br />
<br />
Alguns encontros mais tarde, enchi o saco de seus elogios e dei-lhe um pé na bunda, sob o argumento de que não tínhamos muito a ver. (Para mim, ele era imaturo demais e só sabia falar sobre como ia largar tudo no Brasil e se mudar para Londres, onde a vida ia dar certo, o que posteriormente ocorreu.)<br />
<br />
Mais tarde, entrei na universidade e conheci meu primeiro namorado, sobre quem eu não tenho nada de ruim para falar, visto que foi um completo anjo que precisou lidar com as inconstâncias da minha personalidade e com o fato de eu ter dificuldade de me entregar em um relacionamento. Ficamos juntos quase dois anos, o suficiente para terminarmos, voltarmos e depois terminarmos com ele me odiando. Hoje somos amigos e eu encorajo seus relacionamentos amorosos (mesmo que a distância).<br />
<br />
Em seguida, fui morar um ano na França. Foi um período intenso de descoberta da minha sexualidade. Desci do avião disposto a viver o máximo possível de experiências, a fim de conseguir escrever textos com mais alteridade e capazes de tocar profundamente as pessoas. Na prática, passei meu primeiro semestre a me apaixonar platonicamente por qualquer francês que me desse atenção. Em uma conversa banal com uma amiga, me dei conta de que eu completaria um ano sem sexo.<br />
<br />
Estupefato com a realidade, cheguei em casa, baixei todos os aplicativos de encontro por geolocalização e no dia seguinte estava fazendo sexo com um francês estudante de filosofia que, horas antes, havia se mostrado pelado no Skype. (Parênteses: foi um momento estranho, no qual eu desejava o mais rapidamente fechar o notebook, mas não queria constrangê-lo; optei por sorrateiramente desligar o wifi e voltar horas depois, sob a desculpa de que a internet da minha residência universitária era fraca.) Seguiu-se a isso uma fase na qual saí com pessoas cujos nomes não faço a menor ideia, mas que podem muito bem ser Matthieu, Jean, Pierre ou Quentin.<br />
<br />
Um era estudante de biologia, gostava de livros infanto-juvenis e foi a única pessoa maior do que eu com a qual dormi. Outro era um árabe que invadia casas de campo abandonadas para ser expulso dias depois pela polícia, e cujo impacto na minha vida se resume a um leve ataque de ansiedade antes do resultado de um teste de HIV, seguido de uma torta de chocolate para comemorar o resultado negativo, apesar de termos usado camisinha. Outro era um psiquiatra que, basicamente, pensava que estávamos em filme pornô, o que rende até hoj<span style="background-color: white;">e anális</span>es à minha terapeuta, mas a quem preciso agradecer por ter me ensinado que, se sua intuição diz para você ir embora, você deve ir embora, sem se importar em passar vergonha. Seguiram-se muitos outros, alguns com os quais tive um breve relacionamento, outros com os quais eu gostaria de não lembrar mais o nome.<br />
<br />
Dois meses depois de voltar do intercâmbio, sob medicação para depressão e ansiedade, conheci um designer lindo, mas convencido. Como a provar que a vida <span style="background-color: white;">dá</span> voltas, ele era o tipo de cara que me chamou a atenção na primeira vez em que fui a uma boate. Pontos positivos: parecia francês, tinha um sorriso lindo, era inteligente e apos três semanas de conversa, ainda não tinha me perguntado "o q tu curte?". Pontos negativos: era narcisista, se importava demais com a aparência, postava muitas selfies no Instagram e tergiversava quando eu o convidava a sair. Ao longo de um mês de conversas, meus pensamentos por ele variaram como uma montanha-russa: 1) TENHO que ficar com ele, 2) Deus, como ele pode ser tão resistente?, 3) As ultimas cinco conversas fui em quem puxei assunto, vou esperar ele começar, 4) Se ele não me quer, tem quem queira! Vou bloquear ele do meu Facebook, (passa uma semana), 5) ok, vou dar mais uma chance. Apos um mês de insistência, consegui marcar um café em um sábado frio, no qual chovia como se o céu quisesse machucar os seres humanos por cada peido jogado na atmosfera.<br />
<br />
Resultado: um ano e meio depois, estamos juntos. Ele mora em um apartamento com uma planta na sala, pôsteres coloridos na parede e tem uma cozinha com aparelhos domésticos vermelhos, como a Amélie Poulain. Tem uma paciência comigo que jamais vi igual, a ponto de aguentar minhas inseguranças, meus pedidos de tempo, de silêncio, de espaço. De me ensinar a amar e ser amado. Eu vou aprendendo, como uma criança esforçada na escola. Me descubro careta e patético pensando nele, como se a vida não fosse tão difícil de ser encarada com ele ao meu lado. Em 10 dias faço 22 anos e, sinceramente, não acho que cheguei àquilo que Bob esperava de mim, apesar de ter feito algumas boas conquistas. Hoje não quero mais ser como aqueles caras lindos que dançavam no meio da pista de dança. Mas me esforço para trabalhar e poder comprar Twinings à vontade, como um aristrocrata britânico.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-34214732341543118022015-02-09T12:14:00.000-02:002015-02-09T12:17:42.643-02:00ansiedadeA minha primeira lembrança de dissociação foi aos 5 anos. Era noite e meu pai ameaçara me bater porque eu queria limpar o quarto em vez de dormir, ao que fui para a cama a contragosto. Uma vez deitado, senti uma força sair do peito e me puxar para baixo, o que me fez observar o próprio corpo do teto. Como era criança, fiquei assustado e falei para a minha mãe que tinha cólicas (talvez porque eu a ouvia reclamar das dores no período menstrual). Ela falou para eu sentar no vaso e esperar o cocô descer. Não saiu nada, mas fiquei tempo o bastante sentado a ponto de ficar com sono e voltar para a cama e dormir.<br />
<br />
Talvez esse tenha sido um dos primeiros sinais de que eu me tornaria uma pessoa ansiosa. Meu pai dizia que homens não mostravam suas emoções, então aprendi que deveria guardar para dentro qualquer sentimento. Para certos efeitos, consegui me libertar e me tornei uma pessoa acidamente sincera e transparente. Para outros, acumulo toda a ansiedade dentro de mim a ponto de ela crescer e se transformar em pensamentos dramáticos e prejudiciais como uma erva-daninha (por que ninguém se preocupa com o fato de que a qualquer momento TUDO pode dar errado na vida???).<br />
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Felizmente, não tenho TOC - ao contrário de um parente que sempre cancela o aquecimento do micro-ondas quando faltam 10 segundos para acabar. No entanto, não consigo evitar de pensar que tenho 21 anos e não publiquei nenhum livro, sendo que nessa idade o Caio Fernando Abreu já estava no auge da escrita. E o Rimbaud, que tinha 17 e se tornou um dos maiores poetas da literatura francesa?? O que eu fiz de bom aos 17, além de passar na universidade? Em que mundo paralelo isso pode contribuir para a sociedade? Talvez eu devesse voltar para a cama. Ou limpar o meu quarto.<br />
<br />
Leio Bauman compulsivamente e fico com pena da minha geração. Somos ambiciosos a ponto de desejarmos praticar o bem, mas imobilizados por conta das atualizações da timeline do Facebook. Como ser produtivo em um contexto em que posso saber de qualquer coisa que acontece, graças às redes sociais e aos portais de noticia? De que forma vou escrever um texto profundo e relevante se o Buzzfeed acaba de postar um link com mais fotos de cachorros fofos? Consciente disso, tento não pensar no assunto e passo café para mim, para em seguida me culpar (diariamente) por colocar duas colheres de açúcar. Minha mãe não aguenta mais e por isso comprou açúcar orgânico, ao que agradeço e digo que a amo.<br />
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Toda a vez em que passo a pé pela Assembleia Legislativa, uma mendiga velha me olha e pede dinheiro para comer. Eu a encaro (nunca ignoro, porque acho horrível fazer alguém sentir que não existe) e peço desculpas por não a ajudar dessa vez. Um dia, ao voltar do trabalho, vou ao supermercado e compro uma caixa de Bis para comer enquanto leio um livro chatíssimo para o TCC. Na volta, encontro novamente a velha, que me pede comida. Digo que só tenha uma caixa de Bis, ao que ela responde: "Tudo bem, um chocolate faz bem para adoçar a vida".<br />
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Entrego a caixa e saio andando, pasmo. Quisera eu ter essa positividade. No meio de tanta ansiedade, tendo a me focar nos pontos negativos da vida e passo a crer que meus dias são sempre ruins, ou que ao menos sempre poderiam ser melhores. A matéria que escrevi não tinha uma abertura boa, não andei de bicicleta como eu planejara, não almocei com o meu amigo, não fui romântico com meu namorado como poderia ter sido. E assim os dias passam a contragosto, como se eu estivesse sempre longe de quem aspiro a ser.<br />
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Chego à conclusão de que todo ambicioso tem um pouco de baixa autoestima, porque não se contenta com aquilo que possui e precisa de algo a mais para ficar em paz. Talvez por isso pessoas acomodadas pareçam felizes. Se estivessem incomodadas, fariam algo de diferente. E quem pode julga-las? Uma vida sem ansiedade é uma vida mais agradável. Um dia sem se preocupar se fez a escolha certa no trabalho, na relação, no direcionamento da vida. Certezas que duram mais de 24 horas. Ações sem uma autocritica constante e destrutiva.<br />
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Minha psicóloga disse que uma saída para a ansiedade é se esforçar para manter o foco no presente. Dar leves tapas na cara, fazer sexo, yoga, não remoer uma escolha depois de tê-la feito. Ações práticas que tragam a atenção para o que está acontecendo. Cumpro as tarefas à risca. Mas às vezes ainda me pego observando meu corpo do teto. Nessas horas, repito para mim mesmo: "Está tudo do jeito que tinha que ser, da melhor forma possível...". Coloco um sorriso no rosto e me ponho menos crítico. No fim das contas, somos as únicas pessoas com as quais precisaremos conviver 24 horas por dia pelo resto da vida. Talvez valha o esforço tentarmos ser um pouco mais agradáveis com nós mesmos. Para fazer a existência terrena mais calma.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-16282545284274010172015-02-08T20:59:00.001-02:002015-02-08T20:59:23.336-02:00melancolia<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nos últimos tempos é um pouco difícil falar com pessoas da minha idade sobre algum assunto que não tenha a ver com ambição. Os amigos mais pró</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ximos estão se formando na faculdade, alguns j</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> estão empregados, outros fazem planos de morar fora, outros não têm a menor ideia do que fazer. Parecemos adolescentes de 14 anos e meio, quando somos as ambições que criamos para o futuro pr</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ximo. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Eu estava na festa de 28 dias para a formatura da minha turma com um nível de á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">lcool no sangue bem menor do que eu desejava, talvez por conta da massa penne que meu namorado cozinhara algumas horas antes. A cada dois passos que eu dava na festa, encontrava algum conhecido da faculdade a quem abraçava e falava sobre amenidades, formatura, projetos de vida etc. Como se estivessem em uníssono, todos estavam excitados, ansiosos e, basicamente, apavorados com o que fariam a partir do momento em que pegassem o diploma e tivessem que enfrentar o mundo das expectativas criadas para uma pessoa j</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> formada. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dançamos como amigos idosos fazem em bailes da saudade, com um pouco de excitação, mas sem aquela energia dos velhos tempos. O lugar estava lotado o bastante para as pessoas pisarem nos pés das outras sem pedir desculpas. As m</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ú</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">sicas iam de Novos Baianos a </span>Queen<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, o que me deixava sem saber como dançar e meu namorado entediado, trocando mensagens pelo </span>iPhone<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> com uma amiga. Eram 3h quando fui embora com uma leva de amigos. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No dia seguinte, me ergui da cama com pensamentos amargos não típicos de um sábado de manhã, quando em geral estou alegre e bem-disposto. Ainda de pijama, encarei a pilha de louça suja da massa penne, fiquei desmotivado e voltei para a sala. S</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">entei no sofá e comecei a ler 1Q84 entre uma mordida e outra de uma maçã bem doce. Depois de duas p</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ginas, larguei o Kindle de lado e comecei a repensar o que havia acontecido na noite anterior. Havia algo que não estava certo, como uma peça de quebra-cabeças não encaixada no lugar correto. </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Faz cerca de dois anos que minha turma da faculdade quase não se encontra. Saio com três ou quatro pessoas, em geral em almoços, com hora certa de inicio e fim. Quanto à minha turma de amigos do colégio, as coisas também mudaram: minha melhor amiga se mudou para Barcelona com o namorado, meu melhor amigo est</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> na Finlândia, outra mora no interior para cursar Medicina. Restaram poucas pessoas, mas não o suficiente para seguirmos o h</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">bito de ir em bares às sextas-feiras, reunir-se aos domingos para tomar banho de piscina e fazer nada em lugar algum.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Esperei ansiosamente meu namorado se revirar na cama, ao que fui correndo para não deixá-lo voltar a dormir. E</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">nquanto abraçava um travesseiro de astronauta, co</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ntei tudo o que se passava na minha cabeça. Com a maturidade de quem tem quase 30 anos, uma paciência de quem está apaixonado e uma voz de sono, ele explicou que o afastamento é absolutamente normal e previsível. Uma vez que não há mais a necessidade de convivência por conta das aulas, a faculdade não é um motivo para nos unir. Apenas continuam a se ver aqueles cujo vinculo ultrapassa a obrigação de convivência diária. Quanto aos amigos do colégio, cada um constrói a sua trajet</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ria, o que às vezes implica ausência física e aumento do <i>gap</i> entre os encontros. As</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">sim como a vida se reconfigura, o mesmo ocorre com nossas relações.</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Me senti como o adolescente de 16 anos que era ao sair do colégio - ansioso para entrar na faculdade, melanc</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">lico por saber que se encerrava um período do qual, mais tarde, eu sentiria falta. Eu sabia, à época, que deixaria de ver meus colegas do Ensino Médio, exceto aqueles com quem ainda saio hoje. O caso é que sofria com o luto futuro, com a consciência de que um ciclo se encerrava e que parte de mim ficaria para tr</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">s, acessível a partir dali apenas por lembranças e fotografias - praticamente o que acontece hoje. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Esse sentimento me parece t</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">í</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">pico de encerramento de uma fase. Quer dizer, quando convivemos com um grupo de pessoas, parte de n</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">s fica com elas nesta maluca experiência que é o inconsciente coletivo. Quando nos afastamos, também ficamos mais distantes de parte de n</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">s mesmos. E assim fica para tr</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">s o eu universit</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">rio que ia empolgado para a faculdade, que sa</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">í</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">a para festas com os colegas, que tomava banho de piscina com os amigos, que tinha os finais de semana livres para fazer absolutamente nada. Um eu que vira hist</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ria e </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">d</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> lugar a uma nova identidade. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Talvez o medo meu e dos meus colegas seja este: como se reinventar? Quem vou ser agora? São questões às quais é impossível responder no momento e cujas respostas s</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">ó</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> aparecem depois, quando a equação j</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> foi solucionada e olhamos para tr</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">á</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">s, com um pouco de melancolia e saudade. </span>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-11925837765456550432014-06-03T08:58:00.000-03:002014-06-03T08:58:04.416-03:00voo<i>eu quero me perder nos teus lençóis</i><br />
<i>capa de herói que me cria</i><br />
<i>numa aventura sem fim.</i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-64733099116811689412014-05-30T15:30:00.002-03:002014-05-30T15:31:33.678-03:00singelo<i>tuas palavras que amarram</i><br />
<i>minha boca aos teus lábios de aço</i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-2104848672994311172014-05-28T18:53:00.001-03:002014-05-30T18:59:39.533-03:00calmaria<i>Quando desisto é que surges</i><br />
<i>Cheio de amor e encantamento</i><br />
<i>E teus gestos se enquadram</i><br />
<i>Numa moldura de ouro.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Nestas horas eu preciso me acalmar,</i><br />
<i>E a melhor ação é um chá</i><br />
<i>De camomila, mel e</i><i> agrião</i><i>.</i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-50298034822488568992014-05-28T18:34:00.000-03:002014-05-28T18:34:29.130-03:00uma olhada para o lado<i>e minha ansiedade resumida em uma mordida no lábio. </i><i>não sei se digo sim ou não. </i><br />
<i>sim e não, curto e pesado. duro como um tiro</i><br />
<i>no meio do peito, que vaza como uma represa.</i><br />
<i><br /></i>
<i>eu disse que não queria mais nada, ele disse que eu precisava de abraços. eu ri. para não chorar. situação desagradável, parece que uma cobra subiu pelas minhas costas e se adornou do meu peito, passando a pele gelada e nojenta na minha pele de angústia. e como se fosse um robô, meu cérebro entra em pane e desaprendo a hora certa de vestir os corretos sentimentos. fica tudo no automático. exemplo. hoje está frio e chove, vou vestir a camiseta da tristeza e a calça da melancolia. boto um cachecol amarelo para ficar mais alegre. lembrete: comer um pedaço de torta para produzir serotonina. tomar banho quente e escorrer todo o pensamento danoso pelo ralo, para ficar bem longe, no esgoto mais abaixo do meu piso de lágrima. </i><br />
<i><br /></i>
<i>queria dizer muito, mas não vai.</i><br />
<i>não sai não sai não sai</i><br />
<i>sai água de dentro de mim</i><br />
<i>corpo líquido toma forma</i><br />
<i>e vira outro que no fim</i><br />
<i>já é a imagem oposta no espelho</i><br />
<i>infinito particular e excessivo. </i><br />
<i><br /></i>
Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-2952809880034170292014-05-27T15:21:00.001-03:002014-05-27T15:25:23.593-03:00bueno,Bueno, o vento corta o rosto dela e deixa marcas de remorso. Joana me mandou um e-mail para avaliar um conto seu, apesar de não termos grande intimidade. Respondi que o faria com muito prazer. O texto era fraco, cansativo, e não conversava com nenhum dos meus cinco sentidos. O que me chamou a atenção eram as personagens: uma garota em primeira pessoa pedia conselhos ao leitor sobre como lidar com o namorado que a espancava. Não soube se Joana me pediu ajuda por meio de sua literatura medíocre ou se apenas fazia... literatura medíocre. Eu passava por uma fase ruim da minha vida e não tinha forças nem para fazer dos meus sapatos um par. Respondi o e-mail dizendo que o conto estava ótimo, que ela tinha futuro e que para investir na carreira deveria se aprimorar sempre. Desliguei meu computador e fui tomar banho, levar água quente no pescoço, como uma criança cansada.Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-6623762144574436772014-05-25T18:52:00.001-03:002014-05-25T18:52:33.747-03:00o bater da porta foi meu adeus em um claque<br />
a minha última força foi meu suspiro na noite<br />
e meu morder de lábios foi a confusão em um gesto.<br />
<br />
quem diz que palavras são<br />
essenciais<br />
conversa demais e diz:<br />
de menos. desconhece<br />
a intricada linguagem do corpo...Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-76735814831598315152014-05-19T23:21:00.002-03:002014-05-19T23:21:16.806-03:00<i><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">amanhã eu me despeço de ti</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">e meu travesseiro vai ter cheiro</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">de melancolia.</span></i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-56030703201537198112014-05-19T13:27:00.002-03:002014-05-19T13:29:45.622-03:00le supermarché à lyon<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Cambria, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;"><i>"Mais c'est encore le lendemain, quand en pleine périphérie commerciale de Lyon, on est allés se ravitailler au Giga mega hyper Carrefour lui-même inclu dans un centre commercial sans plus aucune mesure, que j'ai vraiment halluciné. Il y avait évidemment tout les services et tous les produits immaginables, allant des gsm-ipod-agenda-cadre photo intégré au fleurs poussées sous cloches en passant par les city-trip pour gens éteints... Les gens se précipitaient dans une effervescence fébrile et à la fois dans une telle immobilité intérieure !!! C'était effrayant de voir des visages fermés et fades, les yeux hagards, inquiets et frustrés, gros et pales, cherchant desespérément l'article qui pourrait bien les rendre heureux et accomplissant ainsi un rituel qui les épuise encore plus.... flash sur flash : le gsm, le ticket du parking, les clés, le caddie, les wc, le nouveau produit pour effacer les taches, la carte sim, les compléments nutritifs, le code anti-vol, les magazines, l'essence, les nouveaux dvd... c'est trop.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Cambria, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Cambria, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;"><i>Je voyais ça d'autant plus clairement que moi-même, malgré l'épaisseur de silence et de temps que j'avais emportés avec moi, j'entrais presque naturellement dans cette fièvre de l'avoir et cette sensation qu'il faut consommer pour retrouver le bonheur... L'énergie dans ce genre d'endroit est au plus bas et si on ne prend pas garde, on est tellement sollicité de partout, stimulé dans tous nos sens et manipulé dans notre recherche qu'on sort vidé en moins d'une demi heure... Je n'avais jamais pris conscience de ça à ce point et tout à coup, le contraste était trop évident. Il me semble qu'on est vraiment en train d'aller trop loin et qu'on se fait un mal fou sans meme s'en rendre compte. J'ai voulu graver ça dans ma mémoire pour être à même, le moment venu, de faire les choix nécessaires pour limiter l'impact de ce genre de fourmilière sur ma vie.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Cambria, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;"><i><br /></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Cambria, serif;"><span style="line-height: 18.399999618530273px;"><i>Je crois que j'ai compris aussi pourquoi notre époque ne croyait plus en Dieu. Nous n'avons juste plus assez de silence pour laisser s'intaller sa paix."</i></span></span></div>
Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-152199668722576822014-05-18T22:30:00.001-03:002014-05-18T23:24:50.377-03:00minha sanidade<i>Minha sanidade noturna questionada por mosquitos, e o zumbido me leva de volta à adolescência. Eu era um jovem de 14 anos e já escrevia mem</i><i>ó</i><i>rias, como um idoso melancólico. O tempo passou, as experiências pesaram ao redor dos meus olhos, e hoje minha psic</i><i>óloga diz que sou um "jovem velho". Por isso me atraem caras de maior idade, na casa dos vinte e cinco anos. E não tenho paciência para gestos clássicos de gente da minha idade ou mais jovem, a não ser que compensados por uma inteligência e maturidade admiráveis.</i><i> </i><i>Nas aulas de yoga, a professora coordenava os movimentos de todos para realizarmos adequadamente a saudação ao sol. Nunca consegui ficar a aula inteira sem analisar meus colegas, porque só assim para saber se eu fazia certo. Parei com a yoga por falta de tempo e hoje meus amigos me alertam: é preciso se focar nos próprios passos e não ser tão disponível às pessoas. Meu pai errava e punha a culpa sempre nos outros, e como consequência me vitimizo em muitas situações. Ao menos tenho consciência disso e busco quebrar o ciclo. No final da aula, a professora cantava em sânscrito, e eu me controlando para não dormir. Acho que o mosquito foi embora, porque o zumbido parou. Amanhã tenho que acordar cedo para trabalhar e entrevistar pessoas que nunca vi e que provavelmente nunca reverei, mas assim é a vida todos os dias. Mas eu sigo a dar importância a pormenores. </i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-67580650953605098482014-05-13T18:40:00.000-03:002014-05-30T15:24:24.420-03:00metamorfose<span style="font-family: Tahoma;"><i>amanhã eu me despeço de ti<br />mas hoje as cortinas vão descer<br />e as janelas fechar<br /><br />porque no sábado vou me perder<br />no azul dos teus lençóis<br />o peixe mais curioso<br />confuso no oceano<br /><br />que inunda a última <br />de nossas profundas lembranças...</i></span><br />
<br />Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-68741965244897994432014-04-15T16:18:00.000-03:002015-02-20T10:54:31.184-02:00escultura<i>esta poesia agrada</i><br />
<i>e extingue um completo universo</i><br />
<i>soa como se o tempo não andasse</i><br />
<i>e as pessoas assistissem à mesma cena</i><br />
<i>elas dizem, hoje preciso de tempo </i><br />
<i>para tomar conta dos meus pequenos móveis </i><br />
<i>mas a semana já foi e é tão amanhã</i><br />
<i>o sol sobe ao horizonte e cai como pesado</i><br />
<i>e a única memória é um círculo opaco</i><br />
<i>algo que, de tão longe, pouco influencia</i><br />
<i>assim como eu e você:</i><br />
<i>quilômetros de distância, mas ainda dividindo território</i><br />
<i>cada um com uma faca a tiracolo</i><br />
<i>tentando forjar cicatrizes na alma do outro</i><br />
<i>uma arte única e inimitável. </i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-19995420714177133852014-04-11T10:33:00.000-03:002014-04-11T10:33:09.340-03:00trechos<i>na praia, as roupas têm manchas de protetor solar, e os pés da cama ficam sujos de areia. como se levássemos a beira-mar ao corpo durante o dia e dormíssemos com ela à noite. os raios do sol envolveram minha pele durante v</i><i>á</i><i>rias horas neste final de semana. e eu me sinto filtrado, como se um coador tivesse retido todas as minhas impurezas na praia. e minhas tristezas ficassem na areia.</i><br />
<i><br /></i>
<i>a sensação de vitoria espiritual ao constatar o bronzeado no lugar do vermelhidão. a marca de sunga que me impede de mentir a respeito de onde estive e do que fiz nos últimos dias. a natureza se encarrega de imprimir suas marcas no meu corpo. eu me curvo à ela, e deixo que repouse sua influência sobre mim. </i><br />
<i><br /></i>
<i>a força mais poderosa é aquela que nasce a partir de um impulso de destruição, visto que é capaz de criar o que h</i><i>á de mais difícil. e, tal qual um espelho d'</i><i>água, refletir as mais diversas cores. e reverberar o que é bonito. </i><br />
<i><br /></i>
<i>procuro na minha mente imagens de sucesso, e me agarro nelas com todas as forças para fazer minha escalada. a montanha é sempre alta e desgastante. mas creio que todos podemos ser bons alpinistas. </i><br />
<i><br /></i>
<i>todos j</i><i>á estão dormindo. talvez eu devesse me juntar.</i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-85094672185165542482014-04-09T22:50:00.003-03:002014-04-09T22:50:48.825-03:00rastros<blockquote class="tr_bq">
"é tão irônico estar vivo. significa assumir uma responsabilidade pelos futuros arrependimentos da humanidade"</blockquote>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>assisti finalmente ao filme A Lista de Schindler e comecei a me questionar a respeito do poder das microações. Schindler salvou 1.200 pessoas a curto prazo e 5 mil a longo prazo - a saber, as gerações advindas. o que me faz pensar: uma</i><i> palavra pode mudar uma geração? um ombro salva uma linhagem de indivíduos? ao mesmo tempo em que a teoria do caos nos preenche de potencial poder, também nos impõe um grande peso sob os ombros, na medida em que nossos atos são valorizados como joias únicas. cada acerto é um acerto de ouro. mas cada erro é um prédio que desaba. </i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>construímos nossa vida de forma a edificar um modo de pensar. nossas ações e omissões nos posicionam no mundo, e assim ocupamos o território a que chamamos realidade. esse espaço que nos pertence convive com os espaços dos outros, como uma grande vizinhança. é uma complicada teia, que se torna mais densa com o passar dos anos. não precisamos tomar ações tão grandiosas quanto Schindler, mas nosso caminhar seguramente impacta a vida dos outros. </i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
<i>a palavra que dissemos ontem fica guardada na mente do amigo. o beijo nos lábios se aninha nos coração de nosso amado ou amada. plantar memorias nos outros é um processo extraordinário, mas também perigoso. </i><br />
<i><br /></i>
<i>nossos gestos exalam o maior bem e o maior mal. ao caminhar, deixamos um rastro agridoce, como uma laranja madura.</i></div>
Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-90274261917997861122014-04-01T17:09:00.000-03:002014-04-01T17:09:10.443-03:00primeiro desejo<i>eu gostaria de ser uma gôndola de Veneza</i><br />
<i>e o dia todo transportar casais apaixonados</i><br />
<i>navegar por águas milenares</i><br />
<i>e me aninhar na memoria de turistas</i><br />
<i>que décadas depois</i><br />
<i>falam da vez em que viajaram pela Itália</i><br />
<i>e deram o passeio mais belo de suas vidas</i><br />
<i>enquanto tomavam um bom gelato</i><br />
<i>e se amavam como nunca amaram antes...</i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-69019532358194413732014-03-21T17:08:00.001-03:002014-03-21T17:08:33.467-03:00<i>I</i><br />
<i>am</i><br />
<i>inhabited by a question </i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6380226934866520699.post-86331451762569831252014-03-10T00:50:00.000-03:002014-03-10T00:50:42.829-03:00são 23:47<i>São 23:47, da mesma forma como ontem e anteontem, e assim como também ser</i><i>á</i><i> amanhã. O relógio, apesar de influente, é limitado, porque se move sem sair do lugar. De ontem para hoje n</i><i>ó</i><i>s mudamos tanto: as unhas ficaram mais compridas, o cabelo cresceu alguns milímetros. Mas os ponteiros não percebem, pensam que tudo segue igual. Não se dão conta de que as cortinas da janelas esvoaçaram, que o par de tênis sujou de lama e que o almoço de hoje foi mais farto, porque era domingo</i><i>. </i><br />
<i><br /></i>
<i>Como se levassem alguma pilha, algumas pessoas vivem como relógios. Podem se mover sem sair do lugar e passar anos com a mesmíssima rotina, as lembranças do passado formando uma simplifcada teia. Ao olhar para trás, tudo é meio parecido. E</i><i>stamos diante de um dilema complicado, este de entender o funcionamento dos relógios. </i><br />
<i><br /></i>
<i>Se pensarmos bem, pessoa é coisa de outra mundo. Varia que nem chuva de verão, e o sentimento é rio que lava o corpo todo. Hoje acordei sujo, mas tomei banho quente e chá de camomila e agora estou limpo como se o rio Amazonas corresse por todas as minhas veias, como se houvesse centenas de canoas levando esperança para os ribeirinhos. Amanhã vai ser dia melhor, eu espero, e espero com todas as forças, como se minha vida dependesse disso, como se fosse meu ovo de P</i><i>áscoa preferido, que o coelho vai trazer. </i><br />
<i><br /></i>
<i>Hoje à noite, eu tenho de novo cinco anos, durmo com uma orelha em pé e fico atento ao menor ru</i><i>í</i><i>do daquele que vai trazer alegria no cesto mais bonito. Em Porto Alegre foi o ultimo dia do Carnaval, meus amigos beberam e saltaram na calçada. Eu ajo diferente,</i><i> em casa faço planos e desejos e espero que deles brotem flores para decorar um sonho bom. </i><br />
<i><br /></i>
<i>São 00:22, da mesma forma como ontem e anteontem, e assim como também ser</i><i>á</i><i> amanhã. Mas um universo se expande dentro da gente, e nasce uma energia que não tem causa ou consequência, como uma fome de mundo. </i>Marcel Hartmannhttp://www.blogger.com/profile/06224802100999126494noreply@blogger.com2