domingo, 30 de setembro de 2012

Dialogos II

Em meio a um salão opulento com paredes altas, um chão enjoadamente limpo, um silêncio de arte e uma temperatura gelada, encontramos quatro poltronas de couro. Rodeados por pinturas renascentistas de três metros de altura, com anjos levantando Maria Madalena pelas vestes, romanos em batalhas e Davi prestes a imobilizar Golias, decidimos dar um tempo e parar de decifrar quadros e esculturas. 

Sentamo-nos com dor nas costas e uma secura na alma.

- Sabe, temos uma lista de tarefas a seguir que me fazem pensar que o mundo não pode prover felicidade a todos. - me disse, a quebrar a ausência de som.

- Por exemplo? - perguntei.

- Arranjar um namorado, casar, ter filhos, conquistar um diploma, obter um trabalho, ser bem-sucedida profissionalmente, ficar bonita, me vestir sempre na moda, ir ao cinema, ler livros, me tornar inteligente e culta, criar uma família na qual eu traumatize meus filhos o menos possível, ter amigos ao meu redor e continuar em um circulo sem fim, que me deixa estranha e atordoada. E, ironicamente, cada vez menos humana. 

Silêncio.

Silêncio.

- E se não tenho sucesso em algo é porque falhei. Pois não fui boa o bastante. 

Silêncio.

- Eu nunca vou ser boa o bastante.

(quero chorar e me fechar de tudo)

Silêncio.

- Nós somos incrivelmente banais. E eu encaro isso e torno-me mais leviana ainda, por pensar que sabendo disso fico mais inteligente. E quanto mais consciência do mundo eu crio, mais me ponho alienada. Temo me trancafiar em uma concha vazia, ou em uma gaveta mofada da qual eu julgue o mundo por detrás da minha frieza. 

- Você não é fria - atalhei. Se foi uma resposta idiota, não sei, mas precisava levantar-lhe a moral em meio ao discurso catastrófico-suicida. Como a provar tudo o que me falou, sorriu em gratidão e disse: "Muito obrigada". 

Levantou-se e saiu em direção a uma pintura de um pequeno e gordo anjo com a face da curiosidade, parado em frente ao portão do inferno a observar o diabo em um trono. Achei a cena uma metáfora mórbida e absurda e decidi sair daquele lugar. Certas visões simplesmente não necessitam de testemunhas. 

domingo, 23 de setembro de 2012

I am vertical

Sylvia Plath

But I would rather be horizontal.
I am not a tree with my root in the soil
Sucking up minerals and motherly love
So that each March I may gleam into leaf.
Nor am I the beauty of a garden bed
Atracting my share of Ahs and spectecularly painted,
Unknowing I must soon unpetal. 
Compared with me, a tree is immortal 
And a flower-heat not tall, but more startling.

Tonight, in the infinitesimal light of the stars,
The trees and flowers have been strewing their cool odours.
I walk among them, but none of them are noticing. 
Sometimes I think that when I am sleeping
I must most perfectly resemble them - 
Thoughts gone dim.
It is more natural to me, lying down.
Then the sky and I are in open conversation,
And I shall be useful when I lie down finally:
Then the trees may touch me for once, and the flowers have time for me. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

In praise of my sister

wislawa szymborska

"My sister doesn't write poems, 
and it's unlikely that she'll suddenly start writing poems. 
She takes after her mother, who didn't write poems, 
and also her father, who likewise didn't write poems. 
I feel safe beneath my sister's roof: 
my sister's husband would rather die than write poems. 
And, even though this is starting to sound as repetitive as Peter Piper, 
the truth is, none of my relatives write poems.

My sister's desk drawers don't hold old poems, 
and her handbag doesn't hold new ones. 
When my sister asks me over for lunch, 
I know she doesn't want to read me her poems. 
Her soups are delicious without ulterior motives. 
Her coffee doesn't spill on manuscripts.

There are many families in which nobody writes poems, 
but once it starts up it's hard to quarantine. 
Sometimes poetry cascades down through the generations 
creating fatal whirlpools where family love may founder.

My sister has tackled oral prose with some success, 
but her entire written opus consists of postcards from vacation 
whose text is only the same promise every year: 
when she gets back, she'll have 
so much 
much 
much to tell."