sábado, 2 de janeiro de 2010

De Ana Lúcia Ribeiro Machado para Vera Ribeiro Machado

Mãe, como faço, a minha filha não me ouve mais, ela não me respeita mais, mãe, será que algum dia ela me respeitou? Semana passada eu perguntei a ela como havia sido a aula, e ela respondeu-me aos berros, que te importa?, você quer saber tudo da minha vida, me dá um pouco de espaço!; e saiu batendo a porta do quarto.
Mãe, o que eu fiz de errado, eu só quis demonstrar interesse e preocupação a ela, será que não consegui expressar-me direito, logo eu que estudei durante quatro anos e meio Relações Públicas, eu, uma bacharelada, não sei me relacionar com meu próprio sangue, carne da minha carne, e agora, mãe? Ela que era tão apegada a mim, ela que pegava minhas roupas emprestadas, um batom vermelho, um brinco de argola, um salto de 12cm. Uma peruazinha que me dava preocupação e ao mesmo tempo orgulho; agora usa umas roupas meio sóbrias, uns casacos de couro, uns acessórios de prata, um par de all-star preto que está mais sujo que as unhas dela;
Ok, ok, mãe, eu sei que estilo é estilo, mas não estou acostumada a isso, veja, parece que foi ontem que os seus pés deslizavam para dentro do meu sapato e um andar de travesti encatava a casa toda. E agora, um batom roxo, mãe, roxo, e um cabelo laranja, onde já se viu, minha mãe? Eu sei que ela quer me chocar, eu tenho uma amiga que é psicóloga e ela me deu algumas dicas, mas de que adiantam algumas dicas se eu descubro que a minha filha tem uma identidade falsa? Eu sei que ela deve ter usado no máximo para entrar em alguma festa, talvez para comprar bebida, isso parece ser algo que ela faria. Se bem que nem pedem mais identidade nos postos e mercados, bando de burguês que só quer ganhar dinheiro; mas que me importa, mãe, mesmo sabendo tudo isso, me preocupo, se não o fizesse eu não seria uma mãe, seria uma carrasca. O que eu faço, você que soube lidar com três filhas adolescentes, como você fez? Às vezes ela chega com os olhos vermelhos à noite e evita o meu olhar, será que é maconha? Eu sei que é leve e que não é o fim do mundo, eu mesma já usei duas ou três vezes, mas como sei se ela tem cabeça forte o bastante para controlar-se? Todo o dia sai no jornal sobre o crack, o crack mata, o crack vicia, o crack começa com o álcool e a maconha, pois bem, mãe, agora ela está com a maconha e certamente com o álcool também, será que eu converso com ela? Tenho certeza de que ela vai gritar comigo, vai afastar-se ainda mais, onde já se viu, uma mãe submissa à filha, você deve estar pensando. Mas também não me importa o que você está pensando, você me chamava de lésbica e drogada só porque descobriu que eu me embebedei com minhas amigas, todas elas caxias e você ainda dizia que eram um bando de oferecidas, nunca vi tamanho absurdo, mas mãe, eu não estou submissa a minha filha, estou submissa ao medo. Tem coisa pior que isso mãe? Eu tenho medo que minha filha não tenha medo. E o pior de tudo: acho que ela não tem.

3 comentários:

Francimare Araujo disse...

Mãe submissa ao filho é um absurdo, mesmo que isso esteja mais comum que acordar cedo e ir comprar pão na padaria.
Sério, as coisas estão assim: avessadas.

Se fosse com minha mãe (rs) ela me daria um tabefe na cara, mas dava mesmo, não viria com negócio de diálogo e coisa e tal. Eu como flha e que conhece muito bem a mãe que tem sei que o primeiro tabefe seria suficiente para voltar a atendê-la e ser o que era.

Beijos!

Anônimo disse...

Briguei com minha mãe hoje, aí eu quis morrer por ser uma péssima filha.

JR. disse...

Nossa. Adorei isso.