domingo, 27 de março de 2011

Mandei-lhe se calar

Disse-me que cessasse de angústias
E ácidos e cores a meu ver
Mandei-lhe às favas
O que saber
São demônios e esferas do meu ser
Transbordando nas beiradas
Nas sacadas da minha identidade
Sou todo banjo e sociedade
Descolando notas e deveres
Monstros monstruosos
Fugindo dos meus matagais
Pena que meus pais não quedam mais
O café esfria e a folha já queimou
Uma história não contada é uma história a menos no mundo
Disse-lhe que me desse a mão, querido

E viajasse comigo ao Infinito...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Todos escrevem mal


Eu escrevo centenas de letras aqui neste texto para falar do que eu quiser e do que vier à minha mente, posso falar de tanta coisa e falar de nada, posso fazer um texto em que não fale nada além do fato de que eu possa fazer um texto pra falar de nada, o que acarreta em você ter gastado um tempinho da sua vida para ler um texto em que nada é dito, será que você está com muita raiva? Ao menos eu estou sendo sincero ao dizer que não quero falar nada, às vezes há textos em que não há nada para ser dito mas parece que sim, então você lê e relê e não abstrai qualquer coisa, restando-lhe apenas criar um sentido e uma estrutura naquele emaranhado de palavras. Talvez isso seja até bom, visto que você é obrigado a pensar e imaginar, a partir do pressuposto de que é preciso reconstruir o texto à procura de um sentido.

O que me leva a pensar que os melhores textos são os piores, porque pelo menos instigam nossa imaginação. A partir de agora, baixa o decreto da escrita ruim: e todos irão escrever confusamente ou baseados em metalinguagem. De tão hermético o texto, nós lhe criamos o sentido. Eles - sentido e texto - se popularizam (a nós mesmos), e a escrita deixa de ser hermética.

A partir de agora, o dadaísmo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Por que a gente pensa?

O que eu refletia era o fato de que eu detenho absolutamente credibilidade nenhuma para falar da neura que as pessoas têm com o tempo, já que acabo de fazer 18 anos e não posso reclamar de ter vivido muito ou de que me falta pouco tempo de vida. Então é fácil falar do tempo que traz amargura quando o tempo está, aos olhos dos outros, a meu favor. Isso poderiam pensar, mas também acho meio absurdo, porque o fato de não ter vivido algo não impossibilita qualquer um de argumentar sobre esse algo. Pessoas não precisam matar para dizer que isso não é o mais certo, nem precisam ter sido esquartejadas para saber que não se deve esquartejar.

Então, no caso, permito-me ver com maus olhos pessoas reclamarem do tempo, posto que eu tenha 18 anos. Mas também meus olhos são subjetivos, fracos, vulneráveis, e dá um medo, assim, pois às vezes me sinto totalmente perdido, já que julgar sempre traz consigo o fato de nos distanciarmos daquilo que julgamos. Assim, se julgamos negativamente algo, ao mesmo tempo nos distanciamos e nos elevamos perante isso, o que acaba por nos servir, como fim, para bajular o ego. Meio triste pensar que julgar acaba por servir também para ajudar na autoestima.

Mais triste é pensar que, segundo esse pensamento, pessoas inteligentes são as que mais julgam e, assim, as mais pedantes. Aí é que se deve trocar o julgar pelo analisar, sem confundir um com outro. Só que, aqui, eu não coloco "julgar" com o seu sentido de trazer os preconceitos para encarar um fato, mas julgar como expor e contrapor argumentos e informações para chegar a algum lugar. Talvez a saída seja se focar na análise, e não no que ela atinge. O foco seria na análise e contraposição de argumentos que, após uma conclusão, nos faria partir para outra análise. O prazer estaria em pensar, e não no resultado do pensamento. Talvez essa seja a fuga para que não peguemos o pensar como arma a nosso próprio favor, para distanciamo-nos dos outros. Porque também de nada adianta ser inteligente e ser um chato, vamos combinar. Coisas mais cansativas são piadas inteligentes sobre filósofos e citações sobre Focault no meio de uma conversa informal. Conversas não devem ser cansativas, tampouco exigir que nos esforcemos. E esse negócio de pagar de intelectual cansa o ouvinte, porque parece que precisamos o tempo todo correr atrás da pessoa para acompanhar sua linha de raciocínio. Como se estivéssemos correndo ao lado dessa pessoa ao redor de uma praça, com destino a lugar algum, somente para que ela nos mostre que aguenta dar muitas e muitas voltas na quadra sem se cansar.

Mas o que me irrita mesmo são textos relacionando cigarro a amor.

domingo, 6 de março de 2011

Na verdade eu queria falar de tristeza

Não adiante discutir, cada um tem sua própria personificação da tristeza. A tristeza é, ela mesma, indiscútivel, mas é tão agradável discuti-la, alguns temas são tão interessantes: tristeza, morte, tempo, o tempo é uma coisa que realmente me fascina, tão abstrato e palatável que é, parece que desliza. Quando penso no tempo, imagino algo deslizando, de consistência de geleia, como aquela pintura do Salvador Dalí em que relógios derretem em cima de um pássaro e de uma árvore. Acho que tenho certa obsessão pelo tempo, pela sua passagem, pelos seus efeitos. O tempo nem existe mas deixa marcas que não tem como fugir. Ou tem? Um monte de gente tentou explicar que o tempo é coisa da nossa cabeça, e não uma realidade da natureza.

O ponto-chave é que ele advém de nossa subjetividade, captado unicamente pelos nossos sentidos. A noção de que o dia passou e que ontem foi ontem é algo percebido apenas por nós, humanos. Sem nossa observação e percepção, o tempo existiria? Se não existíssemos, haveria alguém com razão para perceber o tempo? Santo Agostinho dizia que o único tempo que existia é o da nossa alma, não do exterior. Ou seja, o tempo é algo finito, atrelado à nossa existência.

Então tem isso que é a noção de passagem de um fato a outro que a gente tenta controlar, uma convenção que nós fizemos para nos localizar, para nos sentirmos seguros. Mas nos sabotamos, é óbvio, senão não seríamos seres humanos, e agora a passagem de tempo é dotada de amargura e dor, as coisas que foram perdidas e nunca mais voltarão, lembranças, recordos, melancolia e saudade, acho tudo até bonito, mas às vezes cansa, acho que não o sentimento, mas essa inconformidade com o tempo que a nossa sociedade adotou. Tudo tão pleno, tão bonito, até admirável esta corrida desenfreada para perpetuar um pouquinho mais essa nossa existência curta, é tão bonita esta nossa corrida para fugir da morte, fugir do fim. Somos todos tão mimados, sempre querendo evitar que o jogo acabe, só sabemos roubar, então faz-se plásticas e usa-se cosméticos e passa-se base e vai-se vai-se vai-se, tão bonita essa nossa maneira de lidar com a não-plenitude. Nutro certa admiração pelas pessoas, porque às vezes somos tão grandiosos como nunca esperaria de se ver e às vezes tão patéticos que dá raiva. Que dualidade mais engraçada, tudo um paradoxo, um choque de opostos, o bem contra o mal, a resolução contra a imaturidade, denso versus fútil, preto contra branco, nada em entrelinhas, nada com camadas, tudo resumido em dois lados, sendo que um sempre é pior. Então postamo-nos no que é melhor e julgamos o outro lado: sempre em bom tom, para, com as palavras, deixar bem claro que é o OUTRO que está no lado ruim, e NÓS é que estamos no lado bom. O tempo é uma coisa fascinante, não é mesmo? Tempo é dor e sofrimento porque traz incompreensão.