Morri. E agora?
Vivo a minha morte como antes minha vida? Agora que vivo a morte, ela se torna minha vida e acho que a vida é minha morte. Porque eu antes sempre pensava a morte como “o lado de lá”, aquilo que é inalcançável até que se alcance. E a vida a ser aquilo que eu detinha, que eu vivia. Porém tenho a morte em minhas mãos e isso me leva a um paradoxo pois ela passa a se tornar vida e a vida vira morte. Eu vivo a morte. E depois quem sabe morro a vida. E pensar nisso me leva a perceber na efemeridade do nosso viver que num dia é morte e noutro é vida: em como são etéreas nossas percepções das coisas e pessoas e saberes. Somos egoístas. Porque moldamos todas as leis do universo a nosso modo e todas as ações de tudo tendem a um final: nós. Porque os animais silvestres são enjaulados por poderem nos machucar: culturas são cultivadas para nos alimentar: planetas explorados para fingirmos saciar. Tudo é nós e nós estamos em tudo. E depois reclamos do catastrofismo do universo que responde aos nossos chamados e acaba por nos prejudicar mas é apenas a lógica dos universos, pois se agimos de maneira que tudo tem a ver conosco, tudo haverá de ser conosco. E não entendo, não entendo no catastrofismo ideológico e tampouco no pessoal, há tantos motivos para que nos abalemos, e escolhem as festas ou trabalhos ou os pais, mas em que escala há de sermos egoístas? Morri minha vida, mas penso viver minha morte em paz
Na esperança de que tudo há de se velar
Todos os teus dramas
Tuas feridas
Que agora parecem não cicatrizar
Hão de se fechar
Pensas que tua ferida é grande
Mas a do mundo
É bem maior.
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