quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

italiano

hoje vi um casal de idosos conversando em italiano. falavam muito alto e gesticulavam bastante. pareciam estar brigando. contudo, após alguns momentos, a velha pareceu se fazer compreender e estendeu a mão ao marido. saíram cúmplices de uma eternidade.



eu gostaria de falar italiano
todos os gestos desse povo são expressivos
as mãos sempre ao alto 
como se fosse um assalto
em que cada conversa é uma dança
e cada dançarino me seduz
como se dotado de uma luz
e eu uma mosca qualquer
a voar sem saber 
onde a lua fica
uma fase que arrisca
a fama de um homem inglório
que após versos descabidos
sente que a poesia o desnuda
(por que fazer poesia se a poesia não fica na rua?)

eu gostaria de falar italiano
e saber sorrir, gerar, me expressar
de uma maneira que não fosse patética
falo bonjour e il n'y a pas de quoi
se me ponho de ridículo, tu vois
tudo uma maneira de me expandir e chorar
em direção aos quatro cantos do universo
(seria um deslize do meu ego?)
o que fazer, o que montar
hoje vou desenhar o meu futuro
como se fosse o dia de arte
arquitetando planos, fatos, rimados
uma ânsia de crescimento e ascensão
imersão em uma redoma de vidro
de calmaria, euforia e depressão.

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