Todo ato é um símbolo
do peso daquilo que me esmaga
Psicose 4h48, Sarah Kane
não consigo escrever
com estas cordas que amarram
as mãos junto à boca, o corpo
vai caindo
as pernas primeiro
em seguida os joelhos
na terra, a lágrima
molha o solo seco
e minha cara amarronzada
com a sujeira que enobrece
a inocência da minha face.
não quero tecer
conjecturas
de uma vida de mares de tristeza
onde a leveza foi aos ares
e a dureza faz cantares
de destruição.
como podes ter tudo
e ao mesmo tempo nada?
"parece ter toda a plenitude!"
mas ainda assim
um vazio que não tem fim
e tão babaca
uma essência espalhada em muitas esquinas
e precisa olhar para cima o tempo todo
como se assim fosse o tempo todo
uma cousa cheia de aforismos
e regras bem delimitadas.
quero dormir
atingir objetivos
perspectivas
depois dormir de novo
e acordar de novo
só para voltar a dormir...
o olho de deus
Deus ao meu lado
diz palavras de afeto
em um teto muito louco
de nuvens e chuvas
um avião caindo
e eu choro compulsivamente
porque minha vida falta muito
tudo me falsa e faz ausência
me exige uma correta postura
reta e ambiciosa
porque tens tudo e por isso podes tudo
e quero tudo
e nada
dormir
o olho de Deus
ao meu lado
me observa com uma malícia sexual
de quem quer fazer sofrer
só pelo prazer de observar
o outro perdido
com a pedra no caminho.
mas que terrível loucura!
será que só a tapas se aprende?
também me agrada ser feliz!
e chorar de alegria...
a vida
é uma mala cheia de roupas de viagem
mas estamos sempre de passagem
sem saber aonde ir, o que fazer
ser ou desfazer...
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