sábado, 29 de junho de 2013

Tocada

(ou "o universo particular")




                                                           "I don’t really know how it came about. I never set out saying my work will be about identity. I am interested in people."
Gillian Wearing


No museu de Brandhorst
Uma jovem de cabelos roxos
Sentou a saia colorida
Em frente à foto de uma artista.
Apos quinze minutos de analista
A menina chorou de mansinho,
Limpou-se então com um lencinho
E à portare via
Dirigiu-se à outra galeria...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Observações

Hoje fui no Cultura Italiana me informar sobre preços do curso intensivo e quem me atendeu foi um italiano muito educado. Quando digo que era educado, procuro enfatizar tal aspecto dentre tantos outros. Ele usava todas as formas de polidez que o português pode nos proporcionar: me chamava de "senhor", usava o condicional frequentemente ("gostaria", "poderia") e me atendia daquela forma amistosa, quase submissa, de quando uma pessoa quer agradar e fazer tudo da forma correta.

Lembrei-me de mim durante os dois semestres na França, sobretudo nas vezes em que precisava fazer qualquer coisa que fosse um pouco oficial. Resolver burocracias, falar com pessoas mais velhas investidas de alguma autoridade ou mesmo argumentar com o caixa do supermercado porque eu não achava certo eu mesmo ter de ir atras de outros caixas para buscar o meu troco.

Hoje estou no meu país, reimerso na minha cultura e falando uma língua que domino plenamente. Não tenho obrigação de agradar a ninguém para ser visto como igual - pois que minha carteira de identidade me garante tais direitos. Vejo-me tranquilo nas esquinas de uma cidade da qual sempre fiz parte, mas que agora tento refazê-la dentro de mim à medida que redescubro os jogos de luz durante a noite ou ao escutar o burburinho das apressadas pessoas na Rua da Praia.

Deitado na cama antes de dormir, percebo que o inverno para mim tem o som do tremular das capas de plastico que envolvem as roupas molhadas no varal la fora. O vento bate forte e o plastico acompanha, na expectativa de que as roupas lavadas sigam seu objetivo de continuarem limpas. Mais do que o som da minha infância e adolescência, é o som da minha casa, que eu não ouvia ha muito tempo. Ele ressoa no meu intimo, assim como em todos os precipícios da minha consciência.

Conflito

eu queria que de toda esta energia
e ansiedade
jorrasse uma cachoeira que prestasse
para alguma santa cousa.

caso falem que acabou, eu vou ter que negar
no final da fortuna é a bonança
e quem quiser fiança
vai ter que bajular
e se não me chamar para dançar...
ficarei um pouco triste, meu senhor
minha cor de hoje eu já nem sei
perdi o costume de olhar-me no espelho
melhor assim:
nunca tô feio.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Signos

Enquanto ouvia o ultimo cd do Ray Charles
E segurava Houellebecq a tiracolo
Pela janela do trem
Ele via a vista passar

Via a vida passar

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Aprendizado

Foi só quando aprendeu a falar "ambulância"
Que Felícia entendeu a emergência
De sentar-se à mesa
No jantar.