quarta-feira, 26 de junho de 2013

Observações

Hoje fui no Cultura Italiana me informar sobre preços do curso intensivo e quem me atendeu foi um italiano muito educado. Quando digo que era educado, procuro enfatizar tal aspecto dentre tantos outros. Ele usava todas as formas de polidez que o português pode nos proporcionar: me chamava de "senhor", usava o condicional frequentemente ("gostaria", "poderia") e me atendia daquela forma amistosa, quase submissa, de quando uma pessoa quer agradar e fazer tudo da forma correta.

Lembrei-me de mim durante os dois semestres na França, sobretudo nas vezes em que precisava fazer qualquer coisa que fosse um pouco oficial. Resolver burocracias, falar com pessoas mais velhas investidas de alguma autoridade ou mesmo argumentar com o caixa do supermercado porque eu não achava certo eu mesmo ter de ir atras de outros caixas para buscar o meu troco.

Hoje estou no meu país, reimerso na minha cultura e falando uma língua que domino plenamente. Não tenho obrigação de agradar a ninguém para ser visto como igual - pois que minha carteira de identidade me garante tais direitos. Vejo-me tranquilo nas esquinas de uma cidade da qual sempre fiz parte, mas que agora tento refazê-la dentro de mim à medida que redescubro os jogos de luz durante a noite ou ao escutar o burburinho das apressadas pessoas na Rua da Praia.

Deitado na cama antes de dormir, percebo que o inverno para mim tem o som do tremular das capas de plastico que envolvem as roupas molhadas no varal la fora. O vento bate forte e o plastico acompanha, na expectativa de que as roupas lavadas sigam seu objetivo de continuarem limpas. Mais do que o som da minha infância e adolescência, é o som da minha casa, que eu não ouvia ha muito tempo. Ele ressoa no meu intimo, assim como em todos os precipícios da minha consciência.