Os móveis antigos é preciso retirar
apesar de que o espelho descanse
da mesmíssima maneira,
sem vontade própria.
O armário eu já sei a quem dar, e aquele canto de poeira intocado
finalmente será limpo.
Todas as aranhas vão repensar sua vida, uma vida aracnídea
que antes simples, agora é complicada.
As pesadas teias, pendendo de cima
para baixo, com uma sustentação paralela,
de repente não sustentam nada.
A vida grita por todos os cantos,
e as aranhas encaram
o medo do amanhã.
De repente o impensável
pode ser pensado. E as aranhas
são habitadas por uma questão.
A resposta, no entanto, vem do alto,
as horas passam normalmente,
e o peso do real força as oito patas.
Este canto tomado por poeira
que entrou pela fresta da janela
com um lufar de vento
eu preciso varrer com esmero e vontade,
caso contrário passo a noite com medo
do que pode vir de tanta
tanta mudança de hábito.