terça-feira, 20 de setembro de 2011

no afã de enxergar alguma coisa

Enxerguei o retrato dele
E até hoje me arrependo
Da ternura e da tristeza
Da compaixão de ambos os lados
Dos chapéus azuis, daquelas boinas pretas
Caquéticas, desbotadas
Esqueletos sem peles e sangues
Sem as almas de nós dois
Vampíricos meus atos
Pagando meus pecados sem saber
Mas tudo há de passar é o que disseram
Porcarias
É o que todos falam
Lixos não reciclados
Baús mais que empoeirados
Pessoas só sabem projetar-se
E se elevar aos hinos
Só sabem amar sem saber amar
Afobados que somos
Exagerados
Hipérboles nas nossas falas
Dramas sem fins nem cabeças
Falam falam e não dizem nada
Retórica terna, vazia
Preenchendo os buracos que espaçam nós
Os nós da personalidade
Que independe idade
Jovens ou velhinhos se dirigindo ao asco
De preparar nossos novelos leves
Que tempos depois
Tornam-se pesadas mantas de lã
Tomando espaço no armário
E depois se abre a porta
E melancolicamente levam-se mãos aos olhos
Para chorar de amargura
Pelo retrato dele.

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