As horas passam e não ha ninguém para testemunhar esta bruma de dentro.
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Após todas as certezas, cada vez mais os objetos desfalecem. Os cristais se enchem de pó e os tecidos adquirem cores mortas, enquanto ressoam o silêncio da noite anterior. O vinho meticulosa e despretensioamente servido, o vapor da pizza que contrasta com a fria temperatura do ambiente. Essas oposições formam uma imagem nebulosa à qual nos apegamos em momentos de solidão.
Eu gosto de estar só, mas não gosto de solidão. Meu nome é ser humano.
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Preciso continuar minha conversa da virgula. Minha discussão comigo mesmo.
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As pessoas não sabem, mas enquanto realizam seus movimentos mais banais do dia a dia, me quedo compenetrado e recluso, a fixar uma imagem mental de uma cena qualquer em minha memoria. O jeito de arrumar o cabelo com os dedos da mão direita. O sorriso da chegada no ponto de encontro na carona da bicicleta. A expressão de felicidade com o horizonte absurdo. O "hnnnnn" com o sorvete na boca.
Estas detalhadas e minusculas figuras do cotidiano constroem o ninho de afeto - refugio nas horas de saudade ao crepusculo, no cair da neve ou nos longos minutos de deslocamento na bicicleta. E pouco a pouco, estas pessoas se adornam em mim, como se me dessem um pouco da personalidade embalada em papel de presente. Ao transmutado olhar de agora, o passado é sempre mais bonito. Mas nem por isso apenas uma percepção falsa, visto que também me construo todos os dias, para mim e para os outros. E o que tenho de ti não é nada além de uma imagem que criei de ti, e o que tens de mim é uma imagem que criaste de mim de acordo com as esparsas e arranjadas ações e informações que forneci.
O mundo é uma imagem.
Mas te apercebo com carinho e plenitude. E o coração incha e inflama.
Deus, as pessoas entram pela porta, sentam-se e vão embora, e ficamos prostrados na entrada a olhar as costas de uma silhueta que se assemelha a muito pouco daquilo que testemunhavamos antes. Ideias ressoam.
Fechamos a porta, a sós com lembranças do cotidiano.
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