inverno
primavera
poeta é
quem se considera
(Leminski, Caprichos e Relaxos)
*
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
*
Ama-me. É tempo ainda.
Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez,
vasta ventura
Porque é mais vasto
o sonho que elabora
Há tanto tempo
sua própria tessitura.
Ama-me.
Embora eu te pareça
Demasiado intensa.
E de aspereza.
E transitória
se tu me repensas.
(Hilda Hilst últimos dois)
segunda-feira, 26 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Clube da Escrita
Na minha faculdade, rola um grupo de gente que se reúne pra escrever. Com métodos meio lúdicos, dinâmicos, todos se encontram toda a semana pra se ver. Pra ver a escrita. Vão rolar saraus, discussões sobre escritores e mais um monte de coisa. O nome deste grupo é Clube da Escrita. É aberto pra qualquer um que faça Comunicação, tanto faz a habilitação. A gente tem um blog, e à princípio, toda a semana vão postar um texto. Deem um pulinho lá. Eu só tenho um texto publicado, mas logo virão mais. E vejam também os textos dos meus colegas, eles valem a pena. O link abaixo é da minha página. O link do home do blog tá na caixa das Ovelhas Negras.
http://clubechadascinco.blogspot.com/2009/01/marcel-hartmann.html
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Pra salvar esse post da inutilidade, eu vou escrever sobre Indústria Cultural:
http://clubechadascinco.blogspot.com/2009/01/marcel-hartmann.html
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Pra salvar esse post da inutilidade, eu vou escrever sobre Indústria Cultural:
Para a Escola de Frankfurt, as comunicações são importantes, não porque veiculem ideologias, mas por proporcionarem entreteinimento, alívio, sem o qual as pessoas não suportariam o crescente desencantamento da existência. Um meio de substituir a religião, constantemente atacada pela ciência, talvez? Antes, elas é que se ocupavam de dar o conforto do pós-morte (no final, tudo fica bem). Novelas são inúteis, Big Brother é inútil, mas quem tem coragem de tirar esse anestésico da família brasileira? Quem tem coragem de tirar a morfina de um doente terminal? Meu professor de Comunicação e Cultura disse que, num livro em que uma mulher escreve sobre quando acompanhou o Jornal Nacional por uma semana, William Bonner, ao ver um texto que iria então ao ar, disse: "Não, não, o Homer não vai entender".
A Indústria Cultural tem pleno saber de sua atuação. Os meios de comunicação pautam nossos assuntos. Quando estamos sem papo, falamos sobre o tempo, a novela, o BBB, o jogo de futebol. Não há como fugir desta Indústria. Não há rebeldia, em sua essência. No momento em que você arranja um emprego, você a alimenta, pois produz e consume (n)ela. É nosso Deus na terra, com sua onipresença e onipotência. Dita vários padrões: ser belo, ser rico, ser independente, quando, na realidade, é apenas um padrão: consuma, ininterruptamente, consuma. Vá à academia e faça uma plástica: seja belo. Trabalhe incessantemente: seja rico. Independência vem com o dinheiro, ok? Por definição de Adorno e Horkheimer, filósofos e sociólogos da Escola de Frankfurt, "Indústria Cultural designa uma prática social, através da qual a produção cultural e intelectual passa a ser orientada em função de sua possibilidade de consumo no mercado". Ainda segundo eles, a avalanche de informações, as quais vivenciamos nos últimos anos, idiotiza as pessoas. Muita informação é difícil de ser filtrada. Informação crescendo em PG. O filtro parece não crescer.
A IC se autocensura, excluindo possíveis resistências, determinando ela mesma o consumo de seus próprios produtos. Já pensou colocar um assunto como esse num documentário exibido pela Globo? Óbvio que ela não deixaria, mas, fingindo que o faria, vocês acham que isso daria alguma audiência? Não. Porque a Indústria Cultural exclui qualquer resistência, sem que alguém precise ajudá-la. Sem que haja um censor ali do lado. Quem precisa de Ditadura Militar quando se tem o mais poderoso órgão a favor? Apolítico, ainda por cima, pois não faz diferença ser de direita ou esquerda: todos sucumbem ao seu poder. Os produtos produzidos por ela possuem todos os mesmos moldes, por mais que alguém coloque um artista famoso na propafanda para dar-lhe singularidade. Britney Spears lembra Kesha, não? A Lady Gaga também parece. Os filmes hollywoodianos também, com seus finais felizes (sem sangue/com sangue, escolha o que preferir). Nossas novelas das nove, com finais previsíveis e vilões estereotipados. Vez em quando surge alguma singularidade: cadeiras-de-rodas, protagonistas negros.
Símbolos de resistência também sucubem a ela. 10 reais a camiseta do Che Guevara, novinha. Revolução não existe. O Iluminismo, mesmo, contribuiu com tudo isso. Segundo a Escola de Frankfurt, "o que os homens querem aprender da natureza é como usá-la a fim de dominá-la mais completamente e aos outros seres humanos". Neste aspecto, os ideais iluminados nos prejudicaram. Não adianta, por mais que se tente evitar, sempre faremos parte e alimentaremos a Indústria Cultural. O que é preciso ter em mente, é que, para mudá-la, é preciso estar dentro dela (trabalhando com sua profissão e consumindo o que você consome).
Não há como ser um ser passivo. A única passividade que existe, é a passividade em relação às reações aos seus fenômenos: essa passividade, sim, pode ser escolhida, mas é extremamente essencial ser evitada e combatida.
domingo, 18 de abril de 2010
Peso
Nesta selva imunda que é nossa companhia de todo o dia é que impressiona ver o belo no velho: o cuidado na mediocridade. Adianta nada andarmos na rua e encararmos pessoas que nunca mais veremos - com destinos que imaginamos e respostas que também criamos só para sentirmos que somos superpoderosos. O que vale mesmo é pararmos quietos e encararmos que ao nosso redor existem pessoas com destinos que não imaginamos e respostas que não inventamos. Triste quem fecha os olhos para isso e passa a entender que basta somente o seu futuro: somente o seu destino a desembocar num mar gigante. Mas se esquece que para formar um mar há muitos outros rios para alimentá-lo. Um mar é feito de várias águas, e somos apenas gotas? - que não se controlam que não se contentam. Atuação mínima ao redor resulta em consequência (maléfica malévola?) máxima no interior. Perto da gente também se escondem vidas complicadas e histórias densas. Porque costumamos acreditar que nossos problemas são os piores e até somos imaturos neste aspecto: egocêntricos. Outros também vivem: outros também choram. Se esquece que o outro é também denso.
Mais do que a água.
Menos do que todos os sentidos.
Denso é o teu viver.
Mas assim é o meu também.
(O ser humano é de dois materiais:
Carne e alma,
Pesados na mesma medida.)
quarta-feira, 14 de abril de 2010
domingo, 11 de abril de 2010
Lida bem com o meu lidar
A ironia da vida está no instante em que se cala
(Beatriz Bajo)
ficar com um deles.
3:30
Eu ainda com o corpo suado levanto da cama com uma velocidade arquitetada esperando você dizer para eu ficar, nem isso, talvez só uma mão segurando meu braço além dum olhar forte. Mas isso não ocorre e eu sei que não vai ocorrer pois sei com quem lido apesar de ter uma esperança suave no fundo da alma (por enquanto talvez isso é que me salve). Coloco minha boxer e me visto com movimentos ríspidos como quem diz que não esperava nenhuma reação, nenhum impedimento mesmo: mordendo os lábios ao imaginar uma maneira digna de me despedir sem que eu lhe fira, sem que eu me fira neste nosso lidar bizarro em que eu fico à sua mercê e você me faz só por você. Eu contigo me faz lembrar daquelas crianças que amaciam os pais com conversas nem um pouco inocentes depois de ouvirem que vão apanhar. Dizendo, paiê, manhê, você viu que bonito aquele cachorro?, e assim tentam suplantar a mal-criação com uma boa-educação. Eu lhe amacio com palavras bonitas frases de efeito e poesias ao ouvido, mas tudo o que recebo em troca é ser rachado: em dois pedaços. O que mais me destrói é você exigir
ficar com um deles.
sábado, 10 de abril de 2010
Sobre intimidação assistida
http://www.youtube.com/watch?v=4_mIAzQ6LtE
Diz-se, no Jornalismo, que repórter é aquele que sai às ruas para buscar a informação. Para nós, leigos (faço Jornalismo, mas ainda me incluo nesse grupo), é aquele que aparece no telejornal entrevistando outra pessoa. Por um viés, é como um soldado raso, pois é facilmente substituível e reciclável, além de ser aquele que pega na batente, saindo às ruas, na chuva e no calor, para aparecer não mais do que alguns segundos numa reportagem. Por outro - mais correto -, é fundamental (aliás, toda a peça jornalísitca é fundamental), a partir do momento em que se se faz a sua ausência, o tele-espectador de casa não vê nada. Não sabe de nada.
Mas isso é óbvio e não é novo. A questão é que Elcio Coronato, o repórter que entrevista Vesgo nesse vídeo, faz jus ao primeiro viés: totalmente reciclável. Definido como repórter pelo Antônio Tabet (o cara do Kibe Loco), passa quase quatro minutos intimidando Vesgo com perguntas agressivas e retóricas. No mais burro jogo de palavras, tenta claramente encurralar o humorista num beco-sem-saída. Faz perguntas óbvias esperando respostas óbvias, para em seguida fazer perguntas maliciosas. Usa ironia e linguagem corporal agressiva para intimidar nas entrelinhas. Nitidamente se nota o tom agressivo e arrogante de Coronato. Mascando chiclete, usando óculos escuros numa sala fechada e tirando o microfone enquanto Vesgo falava, demonstra total falta de respeito para com o entrevistado e tele-espectador. Parece ser um valentão praticando bullying com alguém mais fraco.
Ao longo da entrevista, o "repórter" aparenta portar a bandeira da vingança. Pretendendo representar toda a legião de famosos que já vivenciaram uma saia-justa com o humorista do Pânico, veste a mesma roupa, pois coloca o outro na mesma situação. Só que esquece que ninguém é vingador e que as coisas não se resolvem assim. Entretanto, sabe-se que formatos deste gênero ganham audiência para com o público. O chato é ver o repórter sendo totalmente ignorante com o humorista que tenta manter-se calmo e responder educadamente. Coronato critica o panicato por intitular-se repórter e crítico, mas tampouco crítico ele também é.
Vesgo erra várias vezes ao exceder-se no tom das brincadeiras com famosos. Entretanto, Coronato erra desde o início ao mostrar-se agressivo e não-receptível para com o entrevistado. É lamentável ver famosos tomando atitudes tão burras e infantis num programa. Se é careta dizer que não se agride o outro para não ser agredido, não sei de mais nada. Aliás, só sei que é horrível ver alguém sendo intimidado na tv. E que aquilo não é porcaria de entrevista jornalística nenhuma.
*À propósito: não vejo Pânico na TV e discordo do modo como os humoristas se excedem com os entrevistados, mas isso não é motivo para a intimidação assistida. Quem sabe vamos todos punir quem errou antes?
Diz-se, no Jornalismo, que repórter é aquele que sai às ruas para buscar a informação. Para nós, leigos (faço Jornalismo, mas ainda me incluo nesse grupo), é aquele que aparece no telejornal entrevistando outra pessoa. Por um viés, é como um soldado raso, pois é facilmente substituível e reciclável, além de ser aquele que pega na batente, saindo às ruas, na chuva e no calor, para aparecer não mais do que alguns segundos numa reportagem. Por outro - mais correto -, é fundamental (aliás, toda a peça jornalísitca é fundamental), a partir do momento em que se se faz a sua ausência, o tele-espectador de casa não vê nada. Não sabe de nada.
Mas isso é óbvio e não é novo. A questão é que Elcio Coronato, o repórter que entrevista Vesgo nesse vídeo, faz jus ao primeiro viés: totalmente reciclável. Definido como repórter pelo Antônio Tabet (o cara do Kibe Loco), passa quase quatro minutos intimidando Vesgo com perguntas agressivas e retóricas. No mais burro jogo de palavras, tenta claramente encurralar o humorista num beco-sem-saída. Faz perguntas óbvias esperando respostas óbvias, para em seguida fazer perguntas maliciosas. Usa ironia e linguagem corporal agressiva para intimidar nas entrelinhas. Nitidamente se nota o tom agressivo e arrogante de Coronato. Mascando chiclete, usando óculos escuros numa sala fechada e tirando o microfone enquanto Vesgo falava, demonstra total falta de respeito para com o entrevistado e tele-espectador. Parece ser um valentão praticando bullying com alguém mais fraco.
Ao longo da entrevista, o "repórter" aparenta portar a bandeira da vingança. Pretendendo representar toda a legião de famosos que já vivenciaram uma saia-justa com o humorista do Pânico, veste a mesma roupa, pois coloca o outro na mesma situação. Só que esquece que ninguém é vingador e que as coisas não se resolvem assim. Entretanto, sabe-se que formatos deste gênero ganham audiência para com o público. O chato é ver o repórter sendo totalmente ignorante com o humorista que tenta manter-se calmo e responder educadamente. Coronato critica o panicato por intitular-se repórter e crítico, mas tampouco crítico ele também é.
Vesgo erra várias vezes ao exceder-se no tom das brincadeiras com famosos. Entretanto, Coronato erra desde o início ao mostrar-se agressivo e não-receptível para com o entrevistado. É lamentável ver famosos tomando atitudes tão burras e infantis num programa. Se é careta dizer que não se agride o outro para não ser agredido, não sei de mais nada. Aliás, só sei que é horrível ver alguém sendo intimidado na tv. E que aquilo não é porcaria de entrevista jornalística nenhuma.
*À propósito: não vejo Pânico na TV e discordo do modo como os humoristas se excedem com os entrevistados, mas isso não é motivo para a intimidação assistida. Quem sabe vamos todos punir quem errou antes?
quinta-feira, 8 de abril de 2010
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Quem sabe detrás de um grito
Quem sabe detrás de um grito, uma ilusão.
E duma ilusão uma saudade.
Duma saudade uma paixão.
Nesta paixão quem sabe um toque.
Atrás dum toque uma palavra.
Com a palavra uma emoção.
Duma emoção um coração.
Quem sabe sobre o mundo, senão
Eu.
E você e todos nós.
Quem sabe se deixarmos pra depois.
O amanhã e também ontem.
Acordando sem pensar.
Ceder ao arfar
Da emoção.
Quem sabe se criarmos a explosão.
O agora e o depois.
Ver sem ter os olhos.
Andar sem ter um chão.
Quem sabe se lidarmos com a vida.
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