domingo, 7 de abril de 2013

O primeiro sinal

Ele é ridiculamente interessante. Entende de política, arte, cultura, literatura, psicologia, sociologia, musica, sonhos e realidade. E ainda cozinha. Argumenta sobre diversos temas costurando um assunto ao outro com uma destreza que me excita. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que disserta sobre todos os tópicos que eu poderia imaginar, não fala quase nada sobre si mesmo.

Em um dia cinza como outro qualquer, encontrávamo-nos em um café ao ar livre. Depois de queimar os lábios no primeiro gole, perguntei-lhe por que veio para esta cidade. "Às vezes os filmes do Almodóvar fazem mais sentido do que parecem", respondeu, para em seguida adicionar açucar à sua xicara. Insisti mais uma vez na pergunta, porém ele desconversou enquanto ajeitava a franja loira com uma mão e com a outra retirava uma carteira de fumo do bolso. Creio que aprendeu a conversar sobre tudo para não correr o risco de falar sobre si. Já eu, mal sabia que aos poucos me enfiava em um chapéu grande demais para a cabeça.