Uma casa tem muitas paredes. Mais precisamente, quatro, para fixar os limites. Há também o chão, para não existir contato com a terra, e o teto, para não sairmos voando. Tetos são chapéus de casas. Eles cortam asas, de fugas maiores, e alimentam manias de pertencimento. Moradores de rua não têm teto - e pertencem a quê(m)? A ninguém, visto que não têm limites. E quem não tem fronteiras, como pode saber até onde vai a sua vida? Para redimir, inventam histórias e caçam memórias. Muitos têm família, outros a tiveram, poucos sonham em tê-la. Nenhum tem uma casa para pertencer a todos.
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Uma casa tem muitas paredes. Para quem é vizinho ou apenas transeunte, o que importa são as paredes de fora. Pode haver altas colunas gregas, como um Partenon, ou mesmo uma porta de vidro que gire até a metade, como nos apartamentos dos ricos na novela. Uma casa pode ser feia por fora e bonita por dentro. Pode ser feia por dentro e bonita por fora. Pode ser feia em ambos os lados, assim como bonita.
Como pessoas.
No fim tudo são pessoas. E suas obras e seus tiques amargos.
Todos os movimentos do mundo vêm em direção às pessoas. A História só existe porque afeta um ser humano. A Literatura serve para mexer com uma cabeça.
A Filosofia, e todas as suas loucuras, para brincar com nosso senso.
A Psicologia perturba nossos traumas.
A Medicina cuida de nossa casa.
A Poesia liberta nossa alma.
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