Tinha um homem na rua, e eu imaginei como seria se a velhinha perto dele o matasse. Se eu o matasse. A morte é fácil. Mas acho que a verdade é que somos todos assassinos em potencial. Por exemplo, hoje
Você estava na parada de ônibus e com pressa o esperava chegar, a fim de ter tempo para cumprir a sua rotina. O ônibus lentamente parou. Você entrou. Você poderia ter se jogado na frente dele e ser atropelado, você poderia ter esperado passar o próximo ônibus: poderia não ter pegado qualquer linha e ido a pé para casa, mas você não fez nada disso. Você pegou o ônibus na hora em que pegou. E ao fazê-lo, você se fez serial killer. Porque no exato momento em que entrou no ônibus, e a porta se fechou, você assassinou todas as possibilidades de um você em uma outra situação. Morreram Você que Foi a Pé para Casa, Você que Esperou o Próximo Ônibus, Você que Morreu Atropelado e infinitos outros vocês que não há como saber quem são porque já morreram. A porta do ônibus se fechou, e nesse instante, foram fuzilados outros vocês que nunca mais existirão. E, não,
Não adianta dizer que todos os diferentes vocês eram Você. Porque não eram. Se você se atirasse em frente ao ônibus, teria um desenrolar de fatos bem diferente do que se tivesse ido a pé para casa. Poderia ter morrido, poderia ter entrado em coma e causado uma catástrofe familiar, poderia perder as pernas e ter de usar uma cadeira de rodas, poderia até ficar uma semana no hospital e sair de lá andando. Porém mesmo que a última coisa acontecesse, seria um Você diferente, porque teria em si a experiência traumática de ter sido atropelado: experiência que afetaria todas as próximas de uma maneira meio inconsciente.
Hoje você matou várias pessoas, matou várias destinos, você matou também os filhos de um Você num destino louco e bizarro, você afetou sua família e seus amigos de uma maneira irreversível, e não há, não há como voltar, não adianta se arrepender, você matou vários Vocês e várias experiências que nunca acontecerão, e mesmo que aconteçam, não serão a mesma coisa pois as circustâncias também fazem uma experiência, um atropelamento na Farrapos é diferente de um atropelamento na 5th Avenue, você assassinou simultaneamente vários corpos e destinos, e não há como se redimir, isso que é o pior, você matou várias pessoas e não há quem te julgue, não há quem aponte, não há como expiar seu pecado, você matou várias pessoas porém as consciências delas te habitam.
Você é um serial killer: hoje e amanhã você mata. Você mata sem remorso. Só de ler esse texto você já matou várias pessoas, e não adianta correr, porque elas já foram enterradas dentro da sua alma.
(Mas não chore:
é o mais forte
quem sempre sobrevive)
3 comentários:
"e se eu fosse o primeiro
a voltar pra mudar
o que eu fiz
quem então agora eu seria
ahh, tanto faz
e o que não foi não é
eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?"
Que ótimo isso!
Olha; na verdade, físicamente falando, existe um você que pulou na frente o onibus, um vc que esperou o próxmo etc... etc...pesquisa um pouco sobre o gato de schroendinger; teoria das cordas e multiversos. é uma outra forma de pensar o mesmo problema e na minha opinião até um pouco mais elegante. Bom post.
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