Claro, claro, então vi-me hoje lendo um texto para a aula de Teorias da Comunicação, dizia lá pelas tantas que o advento da escrita possibilitou a formação de uma consciência histórica, no momento em que se toma a lógica de que é preciso ir até o fim da linha para entender sobre o que se fala, e uma linha é um conjunto de pontos, cada ponto trazendo um sentido consigo, vários pontos trazendo um grande sentido à espera (ou não) de compreensão, é preciso de um afastamento prévio para compreender o texto, tudo isso afetando nosso modo de absorver o mundo, as ações somente captadas se apreendidos os conteúdos em linha horizontal, a linha cronológica, o tempo, fielmente chegamos a ele, o rei, o querido, como gostamos de você, ó, apegados que somos, escravizados como formiguinhas debaixo da terra loucas para encontrar a superfície porém sem saber onde fica, alguém sabe da luz da luz, alguém nos livre deste teto baixo e escuro, trabalhamos no verão para proteção no inverno, o frio que nunca chega contudo parece sempre perto, alguns metrinhos de distância, alguns minutinhos para chegar. Minutos ou horas? Se adotarmos o pensamento linear de Descartes então faltam horas e minutos e talvez até dias e dias, o que fazer para esperar até lá, quem sabe ler um livro? Quem sabe de nossa consciência, adotarmos uma maneira de pensar louca de maneira circular como um looping de montanharrussa em que você gira e gira e gira, como se estivesse bêbado ou alto, pulando por uma praça às três horas, gritando aos céus a beleza das ruas, como tudo é tão bonito e delicado, de uma destreza ímpar, aquela árvore foi colocada com uma colher, tão encaixada que está, a estátua mijada pelos arruaceiros que se fosse em outra época seriam punks, mas hoje já não são, ninguém sabe o que são punks, o que é este estilo, será então. Queridos os alternativos e hispters, sempre à frente das pessoas em redor, sempre à frente do tempo medido pela nossa consciência histórica criada pela escrita, o que é o tempo mesmo?
Descobri que escrevo poesia porque não se mostra necessário colocar os limites temporais naquilo que virão: palavras e sentidos, semiose infiniiita que se faz, na poesia não há rédeas, poesia se desmancha na janela e adota a forma que qualquer quiser, fácil assim escrever e não precisar se preocupar com ontem e hoje e amanhã, assim todos poetizamos, o tempo não existe, tudo foi, é e será, mas não, não, poderia existir algum modo verbal que não envolvesse passado nem presente nem futuro, talvez. Sonhos também são divididos nesses três, mas não é uma tristeza? Ontem terminei de ler um livro do João Gilberto Noll em que ele conseguia quebrar qualquer noção espaço-temporal, não de uma maneira confusa como isso que escrevo, era confuso também, mas não tanto, é que ele já é tão experiente e eu sou apenas um jovem que há pouco fez 18 anos e penso no futuro que nem existe; engraçado pensar no que não existe, transportar-se para outra realidade que não pode ser medida pelo tempo, por que seria futuro, então? Talvez fosse legal se eu descobrisse uma maneira de fugir do tempo através da escrita, claro que não de maneira assim iletrada, vontade de quebrar o tempo sem que soasse tudo uma verborragia, acho que o tempo não pensa porque se pensasse se autoimplodiria. Vontade de implodir o tempo e libertar a humanidade, pena que assim desapareceria a escrita ou a forma como nós nos conhecemos.
Engraçado o fato de que só temos identidade ao pensarmo-nos a partir do tempo.
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