Como se o mundo fosse um lago calmo em um inverno gelado... e os anos transcorressem de maneira sem surpresas. Mulheres amamentavam crianças e homens impunham-se medo. A única preocupação das mães eram as tormentas nas épocas marcadas há gerações conhecidas. Avós e avôs ensinavam, desde que as crianças era pequenas que, quando os peixes pulavam para fora da água, a tempestade vinha vento a vento.
Nestas épocas já escolhidas a dedo desde as eras mais esquecidas, as tribos organizavam-se em um ritual de preparação para a vinda da morte. Ainda nos primeiros passos da humanidade, instituiu-se que os mais velhos seriam sacrificados, a fim de mostrar aos deuses que a população cedia seus mais vastos conhecimentos em prol de uma vida pacata e segura. O hábito se assentou. Dado este costume deveras bizarro, todas as tribos do planeta ajuntaram sob o nome de "Os Eternos Jovens".
Os Eternos Jovens elegiam seu chefe pelo número de filhos. Quanto mais descendentes, melhor sua posição no grupo. O ritual de passagem para a vida adulta dos garotos ocorria na primeira lua cheia do décimo quarto inverno. Consistia basicamente em seduzir o maior número de mulheres e com elas procriar. Quem se deitasse com mais de sete jovens, estava apto a iniciar-se na longa escada em que se consistia o sistema de hierarquização. À época do rito, andava-se por vastos territórios e comumente se viam orgias em massa e bacanais do delírio. Tudo para assegurar a vida da espécie.
Os mais jovens dos Eternos Jovens questionavam-se em relação à tradição de sacrificar os mais velhos para os deuses. Alguns, porém muito poucos, sentiam o degringolar da humanidade passo a passo, tormenta a tormenta, como se em cada raio que insurgisse ao chão, um pensamento fosse excluído do inconsciente coletivo. Entretanto, por respeito aos idosos que morriam, todos se calavam, até mesmo por receio de eles mesmos serem sacrificados por deter ideias avançadas demais que os deuses quisessem cobrar.
De fato, os poucos habitantes que assim pensavam acertaram. Com o passar dos anos, a população dos Eternos Jovens passo a passo diminuiu, até chegar ao ponto de não haver mais idosos para serem sacrificados. Pela lógica, adultos detinham maior conhecimento do que os mais jovens, pois apesar de estes terem mais revolução, aqueles tinham mais seriedade. Nesta fase da tribo, corpos foram encontrados de mãos dadas nas colinas dos morros. Os filósofos explicavam: pais que se doaram aos deuses, sem comunicar à tribo, na esperança de assegurar a vida dos filhos.
Tanto os deuses exigiram que também os mais velhos dos Eternos Jovens não passavam de garotos e garotas cujo único objetivo era brincar. Entretanto, pela necessidade de se fazer viver, amadureciam de maneira que caçavam e cosiam vestes para guerreiros. Ainda assim, por serem inexperientes e fracos, capturavam apenas animais de pequeno porte, como coelhos e aves. Nesta etapa, a maldição da tribo iniciou-se.
Na falta de avôs e avós que lhe explicassem do sentido dos peixes pulando para fora d'água, as crianças passaram a capturá-los como forma de alimento garantido. Muito mais fáceis de pegar, visto que apenas era preciso sentar em pedras nos lagos e riachos, os jovens assustaram os peixes que há eras ajudavam a humanidade. Com isso, os animais aquáticos, temendo o próprio fim da espécie, decidiram nunca mais sair das águas.
Os Eternos Jovens, detendo apenas a lembrança de que precisavam se sacrificar, mataram-se todos na primeira geada que o inverno trouxe. Este foi o fim da humanidade.
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