terça-feira, 31 de dezembro de 2013

nota

O trem vinha de Canoas para Porto Alegre em uma velocidade avassaladora, como se tivesse pressa em entregar uma encomenda muito importante. De certa forma todos nos, os passageiros, éramos o seu pacote. O calor era tamanho que as janelas abertas e a ventania forte não davam conta de causar algo mais do que uma sensação de alivio momentâneo. A paisagem corria para fora, mas também dentro de mim, acionando uma melancolia de final de ano que eu até então não tinha sentido. Um mosquito pousa perto de mim, mas eu tenho preguiça de espantá-lo. O suor corre pelas minhas costas, e eu tenho sede.

A sensação de amortecimento dentro de um trem ou de um ônibus é um forte anestésico. A realidade passa tão rápido que não é possível apreendê-la. Mesmo apos a forte chuva, ainda faz 34 °C. E eu não consigo testemunhar direito o que vivo porque meus olhos não podem se ater adequadamente ao que está lá fora. Tudo é forte e cheio de cores e de sensações, como um vitral de uma catedral enorme que nos faz sentir pequenos. Vontade de tocar tudo com a ponta dos dedos, mas o que eu vejo passa em alta velocidade, como um condensado que me impede de reter na memoria mais do que um borrão. E parece que não sou inteligente o bastante para entender dessa arte. Mas um dia eu vou.