Marina Colasanti
Às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.
Para que minha vó fique bem.
2 comentários:
Como sempre me lembrou um texto meu, velho, assim:
(Eram nove horas da manhã, e eu tentava te ensaiar um bom dia cheio de promessas e planos enfeitados na minha cabeça. Eu nunca pude te dizer muito. Mas eu conhecia bem a paciência. Eram dez horas da manhã, e fiquei olhando para o telefone procurando o seu sorriso em uma ligação despreocupada. Mas eu entendia do silêncio. Quando a tarde passou com as ocupações, quando pelas ruas eu te via junto a mim, logo ao meu lado, eu me senti bem, mesmo sozinha. E a água da torneira escoando pelo ralo, o som abafado das vozes quando se pula paro o fundo da piscina, a chuva do lado de fora do seu quarto pequeno, ou a maré que sempre tende a correr para o nada, diriam por nós. Mas eu cansei de exemplos. Eram onze horas da noite, e eu ainda queria ter dito bom dia.)
Gostei do post, achei maduro. Simples, e não é sempre que o simples é pouco.
Quando se chora na condução a fraqueza torna-se domínio público e o resto de dignidade se mistura com mais lágrimas, fazendo da dor uma massaroca indigna.
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