Eu tenho pés-de-pano ao levantar da nossa cama e cuidar para que meus passos no escuro não te tirem do mundo que estás descobrindo, um mundo que eu não conheço e nunca conhecerei, um mundo que só tu sabes a entrada e às vezes nem sabes a saída. E assim são meus pés quando discutimos e tu olhas para mim com um olhar que tenta ser intimidador: cuido para não pisar em algumas das tuas feridas que não estão bem cicatrizadas. Meus pés são de pano ao cuidar o que falar quando estás de mau-humor, e também ao sussurrar palavras bobas no teu ouvido (que sei que te seduzem e te fazem derreter). Tenho mãos-de-pano ao escrever poesia no espelho do banheiro, e ao tocar teu corpo como se fosse páginas do meu livro favorito. E assim se fazem as minhas mãos enquanto arrumo nossa cama e vejo teus bilhetes que dizem, essa cama me traz melhores lembranças quando desarrumada. Rio com minha boca de pano. Meu corpo é de pano quando deixo que me toques e me amasses como se eu fosse um boneco; e também sou boneco quando deixo que faças tudo o que queres de mim: e ao costurar um sorriso no meu rosto ao te avistar: e ao te entreter quando na tv só passa propaganda.
Para ti, sou todo de pano, exceto este coração que hoje sente algo tão quente que retalhos de tecido barato não suportam - e meu corpo de pano entra em chamas com tua presença ao meu corpo inflamável.
Sou de pano de manhã
até de noite,
e ao entardecer
amassado
por alguém
que esquece que sou feito de retalhos de outras vidas
- retalhos de outras brincadeiras.
(Sou de pano para ti
e mais ninguém.)
4 comentários:
não pode chorar
o coração é vivo, e isso é o que importa.
queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee lindoooo...guardei nos meus arquivos, com nome do autor (claro)
Esse é um dos meus vários preferidos... Obrigada pela atenção e elogio.Admiro mt a forma como escreve... O sigo já alguns meses,agora que resolvi fazer meu blog tornei-me seguidora oficial... rs enfim parabéns pelo teu trabalho...
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