quinta-feira, 27 de maio de 2010

Grito Desesperado

Eu não consigo lutar contra este instinto, é como eu digo mesmo, i-n-s-t-i-n-to, é mais forte do que eu e por ser assim é algo de que nem faço muita questão de evitar porque faz mesmo parte de mim. Eu carrego as dores dos outros de forma que se tornam minhas e todas as minhas reflexões dão-se em seu redor. Passei por um restaurante de família e estava vazio vazio vazio e pensei na enorme frustração que aquela família evidentemente carente deveria estar suportando: procurando evitar as terríveis garras da pobreza que constantemente tentam trazê-la de volta: mas que mesmo assim resistem resistem resistem, porque corpeando é que se vive, como diz Simões Lopes Neto. Mas o corpear é daqueles atos também instintivos, assim como minha empatia exagerada: que não me poupa de sentir-me mal ao meio-dia por ver um casal sentado numa mesa enquanto outras tantas mesas quedam-se desocupadas, à espera de pessoas que provavelmente nunca sentarão (e ao pensar isso, minha frustração catalisada se mistura a uma autorretaliação irradiada pelo meu racional, tudo por ter previsto um futuro em que não há futuro). E daqui a dois meses, o homem chega à esposa e diz que é preciso fechar, que não deu certo,
 que nosso dinheiro foi embora, meu amor, não há o que fazer, nós tentamos mas Deus não quis que fosse desse modo, há algo que nos salve, talvez se ficássemos mais tempo haveria de haver algum assalto, mas não há o que fazer, é preciso fechar pois nós falimos. A pobreza vence uma batalha, mas não vence a guerra, porque corpeando é que se vive. Vivendo é que se corpeia.

(E dei o grito desesperado
por doerem-me  
as dores do mundo)

6 comentários:

Priscila disse...

Sensibilidade é o teu nome.

Charles Bravowood disse...

Algumas coisas nesse mundo parecem ter um final certo, e tem aqueles momentos em que tudo parece que nunca dá certo, não sei bem o porquê, mas penso nisso quanto a meu futuro, não quero ter que abandonar algo que tanto me empenhei na vida!

Abraço Marcel,

Charlie B.

Francimare Araujo disse...

Um grito forte que certamente outras vozes não soam.

Abraço!

Marcelo Mayer disse...

chega a ser previsível qualquer ato sem pensar. e compreensível

Érica Ferro disse...

O mundo, às vezes, me pesa. E eu choro e me desespero.

Anônimo disse...

Instinto é uma lei da nossa vida, é uma morte de causa naturais.
Mais ainda , ele vem carregado de impulsividade .. que é mal pelo qual sofro, e como sofro! mas isso vai mudar.

perdemos muitas coisas nessa vida, será por talvez por causa desse tão temido instinto,
eu não sei.

um beijo!