sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ela rumava e estrangeira em todos os lugares (Prosa)

Era uma garota triste. Tinha saúde, sim, era possível chegar à esta conclusão pela cor da pele. Apesar disso, seu pouco vigor era notável: parecia ter acordado de uma péssima noite de sono. O pouco vigor estava nos olhos. Posto que ele sempre está nos olhos, estava especialmente nos olhos dela. Não possuía a tristeza de quem tem uma coisa e depois perde, mas uma tristeza de amargura e decepção, como quando alguém de idade avançada se cansa de viver e mostra nos olhos que há tempos perdeu a esperança de reaprender a evocar algum momento bom.

A garota me olhava com uma vontade de desistir meio singela, meio baixa autoestima, dizendo-me que era tão pouco para estar na minha frente. Senti-me deveras angustiado, desejando poder fugir da frente da minha casa e daquela situação. Era um olhar que transparecia uma monotonia, eu não sou muita coisa, não, aliás, não tenho muitos motivos para substancialmente defender-me, se você quiser pode me dar um tapa, eu só queria....

- Pois, não? - perguntei focando-me nos seus olhos para tentar dissuadi-la do olhar de miserabilidade.

- Está um pouco frio aqui fora, posso entrar? - respondeu, evitando meu olhar. Não sei se sabia da minha compreensão de seus sentimentos. Sei nem se sabia dos seus sentimentos. Tinha frio e fome.


Continuação em poesia.

Um comentário:

Natália Corrêa disse...

Eu pensei que você a deixaria entrar, mas ela estava cumprindo a própria pena. Não precisava da tua.