Então que me espantei por ter me lembrado do sonho, porque ultimamente não me lembro de sonhos. O que me acalma é que sei que ainda os tenho, apesar de não os recordar. Mas como eu dizia, lembrei-me do sonho. Era algo simples e não vou me ater muito em sua descrição, até porque não sou muito bom em descrever. O fato é que eu havia saído da minha aula de francês à noite e chovia e chovia, e eu só esperava o ônibus, ficava esperando e esperando contudo ele nunca chegava, chovia tanto que me dava vontade de chorar. Sabe quando parece que o céu são os olhos e as nuvens as bolsas embaixo? Este era o caso, o céu chovia minhas lágrimas, eu era todo angústia em espera. Quer dizer, toda espera é dotada de um pouco angústia, porém ali, no meu sonho, era tudo exacerbado, talvez fosse minha loucura sem as rédeas, e eu pensava e pensava no ônibus que nunca chegaria, passavam várias linhas sem aparecer a minha. Pessoas chegavam e saíam, iam e viam; a mim, restava o corredor barreado e empoçado.
Em um momento, tive a ideia de caminhar até a próxima parada. Fui até lá e descobri que haviam mudado o percurso do ônibus. Ninguém me avisara, o condutor passava há horas e horas por ali (ou quem sabe dias? alguém se atrever a instituir o tempo em sonhos?). Não me avisaram e eu chorava as lágrimas do céu, todo banhado em angústia e tristeza, queria ir para a Tristeza mas estava imerso nela, então o cabelo molhava e a mochila encharcava, todo preocupado com os livros dentro que poderiam enrugar. Talvez eu estivesse enrugando. E deixo a quem quiser a interpretação disso, eu mesmo tenho as minhas teorias porém não as divulgo porque não lhes faz diferença eu me expor. Só sei que no sonho minha vida era espera. Restava-me apenas a observação, o testemunho, o recordo das idas e vindas de pessoas que nem pensavam nas suas idas e vindas, dado o seu estado automático de tomar decisões.
Acho que também escrevo para sair do automático.
Um comentário:
Tristeza, Bom Fim, Floresta... Porto Alegre dá belos nomes a seus bairros
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