O mundo acaba por se dividir, então, entre o céu e a terra. Na metade inferior está a cidade de Porto Alegre; na metade superior, um teto de nuvens. Uma cidade celestial. Quem habitará lá em cima? O ar é melhor? Respira-se melhor? Vive-se melhor? Seria interessante se realmente houvesse uma população a habitar as nuvens. Pessoas etéreas vivendo em apartamentos etéreos. Nós, daqui de baixo, talvez nutríssemos um sentimento voyeurista, visto que poderíamos observá-los todos em seus afazeres. Os moradores da cidade celestial talvez fossem mais felizes, visto que, vendo apenas a própria cidade em que habitam, não proporiam tantas questões quanto nós, a população que consegue ver dois mundos. Talvez fosse mais fácil viver lá em cima. Mais calmo. Sereno. Previsível.
Esta dicotomia entre uma cidade de concreto e uma cidade celestial é o que move nossa existência, no momento em que as respostas que um plano pode fornecer é o que move a vida no outro. Como é viver lá em cima? O infinito... A cidade inabitável. Habitamos embaixo e ainda podemos ver lá em cima. Uma tortura, uma ânsia de respostas e uma curiosidade indecifrável para seres que vivem no chão.
Apesar de tudo, esta angústia que nos acompanha no dia a dia tem um lado bom, no momento em que nos motiva nos afazeres diários. Buscar respostas sempre é uma força motriz. Como resolverei meu problema amanhã? Como entregarei meus trabalhos, como cuidarei da minha família - em última instância, como morrerei? São perguntas que nos são caras e, de certo modo, justificam-se por si mesmas. E, pensando melhor, talvez os habitantes da cidade celestial não fossem menos inquietos, visto que, acima de si, há o infinito.
A angústia do homem inicia quando começa a olhar para cima, em direção ao céu. Quando éramos quadrúpedes e passamos a andar em duas pernas. Quando éramos bebês engatinhando e passamos a caminhar desequilibradamente, perguntando o porquê de tudo. A maldição do homem é olhar para cima. Resta a nós, ao fazê-lo, aprender a enquadrar a vista de baixo com um ângulo diferente.
A angústia do homem inicia quando começa a olhar para cima, em direção ao céu. Quando éramos quadrúpedes e passamos a andar em duas pernas. Quando éramos bebês engatinhando e passamos a caminhar desequilibradamente, perguntando o porquê de tudo. A maldição do homem é olhar para cima. Resta a nós, ao fazê-lo, aprender a enquadrar a vista de baixo com um ângulo diferente.
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