quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Morte do poeta

Encanta-se, leva-se pelas ruas procurando um sentido para os passos. Exige demais, o que não se pode ter, o que quer ter e não chega perto. Anda pela rua, entra no ônibus, senta e espera o tempo passar. O tempo passa e entra um homem em desespero clamando por dinheiro, grita alto mas o desespero mais, dá um tiro no cobrador e corre pela porta. É a morte de um ser, a morte da vida, vida e morte quase-irmãs se separando, o poeta observa, analisa, espera até que não sabe mais. De mais nada.

Descola-se a realidade da sua fantasia.

Morre o amor de um poeta
E endurece.
E amadurece a complacência com o mundo.
Crueldade com o mago.
Se te pareces importuno
Olha para o lado. Exige de ti mesmo
O que o poeta exige dele.
Morre o amor de um poeta pelo mundo.
E a crença em si mesmo é que se esvai.
A crença para com tudo. A crença para tudo o que
Não vê. O poeta.
Frágil e imaturo. Morre
A esperança do esteta.
A vida é louca como deus. Deuses para todos
Para os pobres, arrogantes
Os do meio e hesitantes.
Pobre como o poeta. Fora da realidade
E de leve engano para com o dia a dia.
Morre o amor do poeta pela sintonia. Os transes,
O misticismo e a magia. Morre o interior da poesia.
A mão do artista necrosada. A carne putrefata.
A alma aprisionada nas jaulas da sociedade.
Mendigando pelo pão da liberdade. Poeta
Pobre. Ingênuo.
Poeta quer viver de magia
Poeta quer viver de fantasia e encantos das pessoas.
Acaba o amor da poesia.
O amor não ama mais as coisas boas.
O amor não ama nem o ódio
(E quem dirá leviandades às três horas?)
Morre a alegria,
Há de sobrar nada ao poeta
Além de lembranças
Poeta comerá o quê
Há de restar-lhe nada em poesia

Além de carnes e sangues para fixar versos gelados.

Um comentário:

DBorges disse...

Todos nós somos um pouco poetas, e todos os poetas quando se veem em situações de perigo eminente sentem-se sozinhos no mundo, sentem-se pequenos diante da morte..
consequentemente, desacreditam no amor e nessa vida que a qualquer momento pode sair.