segunda-feira, 25 de junho de 2012

s.v.p.


e você não para de me doer
e pelo amor de deus eu preciso que pare de doer
pare de me doer pare de me doer
se um dia eu não me levantar
jamais poderei dançar
um tango de vida qualquer
em uma noite de novo prazer

segunda-feira, 18 de junho de 2012

epifania



e eu, que era um homem de mil palavras
e de vários argumentos construídos
a cada dia que passa 
perco meus motivos
e como uma alma que lava
ou uma ave que rasa
saio mais puro a cada amanhecer
como um crente que ousa ver
o olho de deus
e sai a pular em ruas sem fim
fazendo estátuas de marfim
para secar a dor
e dizer sim ao que vier de amor...

terça-feira, 12 de junho de 2012

silêncios

encaramo-nos para mais uma vez sabermos que por detrás de nossos olhos há um mar de pensamentos rebeldes que insistem em quebrar as represas que erguemos. mas nos quedamos quietos, tristes, impassíveis, como homens do exército se prostram diante do frio que congela. apesar de ansiosos e imaturos, somos fortes e (por que não?) adultos em busca de motivos de se assentar como adultos. sabemos que o inverno, além de uma estação, é um estado de espírito - e ridículo conjugar aspectos meteorológicos com personalidades humanas mas a pieguice sempre esteve a nosso favor. hoje passa uma brisa carregada de um perigo capaz de atacar homens em baixa imunidade, vulneráveis sem uma manta no pescoço. ó, ceus. como faz frio em Porto Alegre.

- oi!

- oi!

- (eu gostaria do fundo da minha alma que você simplesmente mergulhasse em uma piscina escura tomada por algas e jamais emergisse sequer outra vez na minha frente ou nos meus pensamentos ou em qualquer rastro de superfície aleatória que insiste em brotar nos cantos dos meus nervos estressados que nos últimos tempos andam em frangalhos por fadigas emocionais que os velhos pais culpam na falta de vitaminas ou de exercícios dizendo 'você deveria comer mais aspargos' ou 'ande mais de bicicleta' enquanto no meu íntimo tudo o que eu quero é me jogar debaixo das cobertas e ficar por lá mesmo até qualquer outra coisa nova surgir visto que os livros pararam de me interessar e tudo o que me atiça são filmes que me causam aquele torpor no qual cesso de pensar em mim mesmo para projetar-me nas angústias de personas alheias que após o término do filmagem me lembram de como eu desejaria que você mergulhasse em uma piscina escura de esquecimento e anestesia)

- (eu sei o que você pensa e sei que você sabe o que eu penso mas é preciso que resistas a todas estas tentações de desmascaramento pois que para uma equilibrada vivência o ser humano deve conter todos os monstros que dariam a vida para sair da jaula que no caso é minha própria vida posta em liberdade que se estivesse livre já se tornaria presa da tua de uma forma que precisas conter tuas azarações e eu as minhas como adultos que resistem a um inverno rigoroso na Sibéria ou na Polônia em uma piscina escura de esquecimento e anestesia)

- tudo bem?

- claro, e contigo?

e assim seguem-se diálogos cuja única importância é a estética, em vez do conteúdo. patéticos, mas sempre a nos provar que graças a deus somos apenas o que fazemos e dizemos, e não aquilo que pensamos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

engraçado

a gente precisa se contentar com nossas limitações. por exemplo, eu não sou engraçado. não que eu nunca faça alguém rir - quer dizer, eu não sou triste ou amargo ou ranzinza. sei fazer certos comentários que, em determinada hora e com determinadas pessoas, são divertidos e arrancam alguns risos.

mas só.

não me peça para contar uma piada - sou péssimo, e invariavelmente decepciono a todos enquanto conto da galinha que atravessa a rua. seja por falar muito rápido ou por não colocar a entonação certa nas palavras, ao meu redor as pessoas sempre acabam por me presentear com aquele riso de amizade nos momentos em que me arrisco a exercitar este lado fraco de mim mesmo. largam um hahaha ou a maior encarnação do rs. aquele riso que você dá para que o outro se sinta bem, tão automático que só percebemos sua presença quando interagimos com um desconhecido e estamos nos policiando para sermos agradáveis e simpáticos. vou rir para que ele ou ela não se sinta mal. então. as pessoas ao meu redor são simpáticas, é claro. graças a deus.

por mais que conviva com seres hilários e já tenha estudado o humor e a ironia em uma cadeira da faculdade, não tenho o dom da piada. minha mãe é extremamente séria e reservada e meu pai faz aquelas piadas de... vô. porque meu pai sempre fez comentários de um jeito que parece ser meu avô a falar. mas isso é só um adendo bobo, visto que não posso culpar meus sérios pais pelo fato de eu não ser engraçado.

até porque é leviano pensar que por não ser engraçado, sou sério. como que a equilibrar meu espírito dado a ausência de observações geniais, rio fácil, fácil. tudo me alegra e me impressiona. gestos me fascinam. se por uma sorte faço um comentário divertido, em geral é sobre minhas burradas - não por um egocentrismo maluco, mas é que eu sou a única coisa que conheço o bastante para elaborar um comentário humorístico. se eu pudesse ser algum comediante, gostaria de ser a Tina Fey. mas, infelizmente, assemelho-me no máximo à Sabrina Sato. porque às vezes meu dia é tão absurdo como uma caricatura.

semana passada, por exemplo. em um mesmo dia, fiquei uma hora em fila de banco, fui atropelado, três motoristas não me esperaram enquanto estava na frente da porta do ônibus e três entrevistados me deram bolo. disso eu sei tirar graça. agora, fazer uma observação hilariante, não. enquanto uns nasceram para fazer piadas, outros nasceram para rir. eu, nasci para rir. porque pior do que alguém que não é engraçado, é alguém sem-graça que pensa ser a criatura mais hilariante da face da terra. ao menos aqueles que riem sempre deixam alegres aqueles que fazem piada. ambos andam juntos e se completam. como yin e yang ou tom e jerry. ou o almoço do RU e o suco de acompanhamento. se bem que estes últimos se separaram há tempos...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

junho

cada vez em que faço a negativa a alguém que vem me pedir esmolas ou fecho os olhos dentro do carro enquanto um jovem faz malabares, me pergunto se ainda resta em mim um pouco de humanidade, por mais que dê alguns trocados quando os tenha e não me falte. é assim que eu deveria me portar? é o suficiente que cenas como essas continuem a me agredir? isto é, qual a diferença entre não dar bola e seguir uma vida mansa e ter consciência e não fazer nada?


faz frio em Porto Alegre. o vento agride nossos rostos como se tivesse guardado uma profunda mágoa durante todo o verão. e chegou a hora de vingar-se.
mas não fazemos nada, somos apenas humanos.
queremos amar e ser amados.
queremos o bem. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

fotografias

uma fotografia é tudo
e ao mesmo tempo nada...

imagens são sombras do passado
que insistem em se fazer valer
com uma voz do que já foi
e não vem mais.

seja por juízo ou inocência
guardamos as lembranças
em prateleiras altas
nos seus devidos lugares
para que apenas deem seus ares
em segundos contados
de melancolia
e quando chega a hora certa
já estão mudas e quietas
sem vontade de dizer, ser
ou nos fazer sofrer