terça-feira, 30 de novembro de 2010

Estranhos


Deu vontade de falar sobre o Rio de Janeiro: toda essa desgraça, esse nojo que dá de os jornais mostrarem como se o bem tivesse triunfado sobre o mal, que agora as cidades estão salvas e todos podem voltar às suas vidas normais. Mas não entendo muito de política, então fiz um texto com umas coisas que pensei.
Há muito tempo, uma amiga me falou sobre um conhecido que trabalha no BOE (Batalhão de Operações Especiais). Numa batida na casa de um traficante, encontraram somente a mulher do cara. O pessoal do BOE perguntou onde estava o bandido. Ela disse que não sabia. O conhecido da minha amiga pegou a cabeça da mulher e bateu cinco vezes na parede. Na sexta, ela disse que tinha lembrado onde ele estava. Falou toda errada porque ficou com o nariz quebrado. 
Comentei para minha amiga que achei um exagero. Ela respondeu que a mulher era uma vagabunda, que compactuava com tudo, e eu não tinha que ter pena. Não era pena o que eu sentia, mas não achava muito certo o que o cara do BOE fez. Comentei sobre isso com um amigo que faz Filosofia, que disse que a polícia é isso, que não se importa em fazer sofrer ou não, que a sua função é manter a ordem. Não os policiais, mas a Polícia. Acho que não só a ordem, mas o silêncio também. A calma. Faz meses que tivemos essa conversa, mas eu ainda penso nisso. 
Primeiro porque precisamos pensar o que é a ordem. O que a define, o que a compõe. A ordem, por si só, não existe. É abstrata. Sua existência depende de nós. Nós é que encarnamos a ordem. Nós é que fazemos a ordem. Não é a Constituição Federal, o Código Civil que a fazem. Eles são somente livros que nos guiam. Assim como os xiitas usam o Alcorão para pautar sua cultura, costumes e leis, nós encarnamos a Constituição e nela é que pautamos nossas ações. Se o Lula fizer uma emenda e disser AGORA CÊS PODEM COMPRAR UM BECK, a ordem muda. Um novo valor passa a ser incorporado, e a polícia não vai mais caçar aqueles que compravam maconha.
A ordem é algo como uma geléia. Um monstro-geleia. Quando requisitado, deforma-se e engole o alvo. Isso me parece um pouco horrível, porque dá a impressão de que a polícia é um agente de sustentação da nossa alienação, já que caça a diferença, o fora da Ordem, e deixa livre quem com ela concorda. Porém esse viés de enxergar a polícia como aqueles agentes carecas do Matrix é meio surreal, né? A polícia é só repressão?
Zigmunt Bauman é um teórico que diz que a nossa sociedade se divide entre os estranhos e os incluídos. Incluídos somos nós, classe média compactuante com o sistema, que paga imposto, vai para o colégio, faculdade, shopping, praia etc. Excluídos são todos aqueles que não seguem a ordem - e fogem à regra. Os loucos, os ladrões, os que moram em favelas, os índios etc. A sociedade, em busca da ordem, tem duas maneiras de lidar com os estranhos:
- Maneira antropofágica: aniquilá-los, devorá-los e regurgitá-los de volta, adaptados e assimilados. Nike e adidas ae.
- Maneira antropoêmica: banindo-os dos limites do mundo modelo e impedindo a sua comunicação com quem nele mora. A mídia entra aí para mostrá-los com um viés policial, de banditagem e pouco humanístico ou até mesmo absurdo - vide costumes indígenas. Segundo a série Ser ou Não Ser, do Fantástico, o Focault também fala disso. Diz que excluímos os estranhos para eles não influenciarem outras pessoas na busca da ordem.
Desenvolvendo este raciocínio, a polícia é um agente de sustentação de alienação. Sustentação porque caça a diferença, o fora da Ordem, e deixa livre quem com ela concorda. Voltando: a polícia é só repressão? E a ordem? O que ela é? Quem tem direito de dizer que é isso e não aquilo?
 Enfim. Se a maconha é liberada para compra e venda, a polícia não prende mais quem faz isso. Os compradores tornam-se incluídos. É o monstro-geleia se adaptando. A polícia é um dos braços deste robô. Ela tem um radar, acionado pelo monstro. Quando o governo muda uma lei, o monstro modifica-se, manda uma nova versão do programa para a polícia-robô, que não ataca mais as pessoas que compravam maconha. Os compradores agora têm o privilégio de serem, por agora, poupados pela polícia-robô. Os agentes da alienação deixaram você viver. 
É um pouco apavorante crer que nossa segurança está nas mãos de uma corporação assim. Ela é volátil, no fim, porque é parte de um monstro que se adapta o tempo inteiro. A geleia é o fim: decifra-me ou devoro-te. Assimila-te ou exclui-te.  A diferença não tem lugar nisso. Aliás, ela não tem lugar nem na cabeça das pessoas. A maioria adora dizer que não é preconceituosa e caralho a quatro. Queria ver se todo mundo ficaria normal se um travesti viesse bater papo. A diferença é defendida por todo mundo, porém a maioria, no fundo, não gosta quando a diferença é distinta dos seus próprios conceitos.
Enfim. A ordem, na verdade, não existe. Nós a incorporamos. Nós a incorporamos contudo ela nos controla. O sistema todo é algo assim: um vírus que não existe, mas que comanda tudo. Esse texto tenta fazer refletir até que ponto a ordem é-nos positiva. Você não teme ficar fora da ordem? Imagina se amanhã o governo baixa um catatau de emendas que te enquadram como um estranho. A partir de hoje, quem tem tatuagem será preso. Quem escuta música com mais de dois minutos, fica por 11 anos na cadeia. Não dá uma sensação estranha? Imagina se amanhã todo o teu ser é estranho, e resta a ti ser assimilado ou excluído? 
Ao cabo e ao rabo, nós todos somos, em realidade, reféns uns dos outros. Porque contamos com a piedade e misericórdia de que o outro nos aceite e considere-nos normais, não nos julgando como estranhos. Assim não somos expulsos da sociedade e vivemos felizes nela. Talvez aí se explique o porquê de nos irritarmos com as diferenças. Todo o ato libertário é dotado de contestação, de questionamento à ordem vigente. A nossa reação é recriminá-lo, porque no momento em que podamos a diferença, a geleia não se transmuta e continuamos sabendo o que ela requere de nós. Ao saber como devemos nos portar, efetivamos as suas exigências e continuamos incluídos. A ordem não muda, e nós seguimos sabendo o que ela de nós exige. 
Falei tudo isso para chegar ao Rio, mas nem sei mais o que ia falar. Hn. Até que ponto é bom para a sociedade meter tiro nos traficantes?  Excluí-los já é horrível: matá-los não é pior? Aliás, alguém ainda acha que matar é a solução? Quem tem o direito de tirar a vida do outro? Por que no momento em que você mata, você assume que a sua vida é tão mais importante do que a do outro, que ele merece morrer, e você não. Se você é o carrasco, é ainda pior, porque nas suas mãos é efetivada a maior prepotência do mundo: dizer sem nenhum som que sua vida é, sem dúvida, mais cara do que a do outro. Claro que eu não falo isso nos casos de autodefesa. Aliás, parece até que eu estou defendendo traficantes, mas não, só estou vendo-os como seres humanos. O maior dilema é tentar realmente incluí-los (eles e todos os outros estranhos) não só com Bolsa-Família, cotas e afins. Não que tais programas sejam ruins, mas todos sabemos que sozinhos não resolverão nossos problemas (sim, filho, filha, são nossos problemas também). Como efetivamente incluir um grupo que está à margem, porém tão grande, que se uniu a ponto de meter medo nos que estão ao centro? 
A maior ironia de tudo isso é que nós, incluídos, trancamos os estranhos dentro de presídios, manicômios e reservas. Agora, os estranhos estão nos trancando dentro de casa com medo da violência. Quem é estranho e quem não é agora? Começou a reação de um grupo social que ninguém dava a mínima. Acho que esqueceram que o ser humano precisa de reconhecimento externo para ter certeza de que sua existência é factual. O quanto mais cedo reconhecermos que os excluídos, têm, sim, problemas de verdade, melhor. Aliás, aí está outra prepotência nossa: pensar que os problemas do outro não são tão difíceis. Isso se manifesta na psique de uma pessoa tanto quanto na sociologia de um grupo.

Foram todas

Não acordaste enquanto eu morria em nossa cama

(E até hoje choro de amargura
Da ternura
Que eu sonhava
Na compreensão enigmática
De nem falar
E me fazer entender
De criar mil faces
E me perder em cada uma
E até hoje eu choro de amargura
Por saber
Que me fazer difícil
Me fez incompleto

Quebra-cabeças de mil peças
Herméticos
Indecifráveis
Mas se na hora de saber
Eu chegasse a uma saída?)

E se houvesse doze vidas pra viver?

sábado, 27 de novembro de 2010

Eu não quis me perder por aí

ai minha mãe me ajuda aqui
que tenho tanto pra mostrar
mas me sinto tão pequeno...
é tanta coisa, que o fogo lá de dentro
me consome

pois sim. ultimamente eu pensei em tanta, tanta coisa, que não quis escrever. dá pra entender? eu não sei direito, acho que amadureci tanto que qualquer tentativa de escrita era inútil pra testemunhar a mais pequena das coisas que aprendi. ou talvez nem saiba escrever. aliás, adoro isso, essa incerteza da gente, essa indecisão, essa pequeneza e baixa autoestima, sei ou não sei, se sei escrever, se posso ser um bom jornalista, uma boa pessoa, um bom amigo e filho e ser humano. e bom pai? olho para as pessoas e imagino como seriam elas com seus filhos. se bateriam pela menor das razões, se evitariam sempre o tapa, o grito, o xingamento. e no casamento, como seriam com seu amor amor, ai, ai, melosos ou não, ríspidos quem sabe, aquela coisa de terminar o ato e querer ficar de conchinha ou virar-se de costas e dormir. e se dormem. quantos por aí roncam. quantos por aí dormem de bruços, de lado, de barriga para cima. se dormem de pijama ou não. e como acordam, mal-humorados, bem-humorados, de mau-hálito, de bom sorriso, com fome, com gana, com tesão. e quantos por aí não exaltam seu tesão pra se afirmar, quem sabe. nem sei. e tantos poetas por aí. seu poeta, sua poetisa, mostra-te, mostra teu ser, mostra teu ato, em cada gesto uma poesia. cada pessoa com um pouco de poesia no seu ser: e as personalidades nela se mostrando. uns têm poesia rimada, outros não, alguns com ela rica, com métrica, tercetos, quartetos, tônica na penúltima sílaba, estrofes musicadas, musicais em cada cena.

mas fale mais alto por favor é que
as gentes não escutam poesia
é preciso falar mais alto
pra que todos ouçam.

(recita mais alto
o teu poema
que é de carne ou osso
de espírito
extrema unção antes da foice.

num só coice
a alma resumida
numa estrofe.)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Maneiras

Pare de pedir que cessem o grito
É deles o direito
De extravazar a raiva
Prefiro o tapa dos amantes
Ao silêncio dos otários

Aliás, prefiro não ter horário

E correr atrás do ônibus
Com todo o pique
Sorrir para o cobrador e dizer que foi por pouco
E que sou um pouco louco

Por preferir o amor
E a ocasião
Que dão frutos-poesia
(De grande envergadura)

Frutos de muito pouca amargura.

domingo, 21 de novembro de 2010

De tão perdido no mundo que não há mãos que tragam de volta para a Terra

E se sentir sozinho como se ninguém ouvisse
Ou entendesse
E afundando
Naquele mar profundo que é
Você

...

...

...



.


(Penso nas pessoas que moram sozinhas em uma cidade estranha e acabo por achar que a única fuga para elas é escrever e criar vários personagens de maneira que façam companhia na hora mais soturna da madrugada, para do frio mais perverso fugir e tentar reagir da maneira menos provável que é não chorar e chorar de solidão. E para todas essas pessoas eu agora digo que a solidão é às vezes exaltada como caminho à profundidade, ao autoconhecimento, à intelectualidade, mas que na verdade é tudo bobagem pois ela é algo que serve apenas para atestar a maior insanidade que temos dentro de cada um: e isso, isso é o que mais machuca, saber das nossas loucuras e incertezas que lutamos tanto para dominar. Porém na solidão somos nós os dominados, visto que o campo de batalha não nos favorece. Pois digo que lute, lute contra as tuas incertezas, porque da solidão é impossível fugir.

E no final estamos todos sozinhos neste mundo...)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Das tuas raízes mais profundas

Árvore é o ser mais bonito que pode existir por aí, porque só de respirar perpetua vida.

Ai de mim se eu fizesse o mesmo.
Respirar e trazer vida.
E expirasse uma saída
Para todos estes males
Que tem por aí
Na lida
Do pequeno livro de contos
Que enfeita a cabeceira
Imaginar o mundo (belo)
E trazer a si mesmo
O cheiro da fazendinha
Que não existe
E bem por isso
Me fizesse feliz.

Ai de mim se eu soubesse de mim mesmo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A primeira respiração após o coma

A primeira respiração após o coma
Não é suave
É longa
Como abocanhar uma maçã em uma dentada
Engolir o fogo que antevê a morte
E desejar sorte aos seus capangas
Que num tiro já explodem sua cabeça

O ar entra voando
Mas na garganta pesa (a consciência)
A virgem logo reza
E procura expiar os pecados que hão de acontecer
(Daqueles que já foram
Só lhe basta enternecer)

A primeira respiração após o coma
Acontece de maneira
Rápida
O doente sente o ar e toma
A devida precaução:
Nunca mais respirar
Da maneira como respirou em coma

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Inerte

O problema é que eu espero demais da vida
E a vida espera demais de mim
Então ficamos ambos parados
Esperando a morte chegar

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

São Manoel

Luciano Martins Indon tem 54 anos. Não é alto nem baixo. É motorista de ônibus. Acorda às 6:15 da manhã para chegar dez minutos mais cedo ao trabalho. A mulher é costureira, os filhos estão no ensino médio num colégio estadual. Luciano Martins Indon senta em uma cadeira com uma almofada a mais no assento, por causa das hemorroidas. Leva uma garrafa d'água aos pés. Dirige a linha São Manoel, quase sempre com o mesmo cobrador (e já são quase amigos...) mas o que mais deseja é as linhas circulares - C1, C2 e C3. Por quê? Porque a maioria das pessoas é cheirosa. É gente que pega condução para ir pra faculdade, pro Mercado Público, pra ir pro médico. A maioria cumprimenta.

Estava com pressa para comer as bolachas que a Mulher empacotou. Parou no Mercado Público e esperou a fila entrar. Entrou gente jovem, gente velha, gente que parece que daria oi, gente que parece que fingiria que Luciano Martins Indon não estava ali. Desta vez, uma moça subiu com uma mochila pesada e  filho no colo. O filho deu oi, e Luciano Martins Indon deu oi de volta. A Moça com o Filho passou por Cobrador e sentou num assento longe. Entrou um garoto. Eu disse:

- Bom dia.
- Bom dia.

Ponto. Henrique João Azevedo tem 28 anos. É magro e hemofílico. Cobrador de ônibus. Trabalha na linha São Manoel. Acorda às 7:00 da manhã para chegar 10 minutos atrasado ao trabalho. Tem uma namorada que ele pensa que o trai. Mas não tem certeza: e já que estão morando juntos, vai esperar alguma prova. Mas só uma. Enquanto isso, olha as mulheres semi-nuas do Diário Gaúcho. Não sabe, mas as cores do jornal deixam-no confuso. Mesmo se soubesse, ainda compraria, porque é o que o dinheiro deixa. Estuda à noite para o concurso da CEEE. Seu sonho é trabalhar em um lugar com ar-condicionado.

Enquanto isso, são 10:15 da manhã, e o ônibus parou no Mercado Público. Entraram várias pessoas. Uma delas era sua prima de terceiro grau com uma mochila do exército pesada e um bebê no colo. Henrique João Azevedo olhou para baixo e fingiu não a reconhecer. Ela não o reconheceria como cobrador. Ele não se reconheceria como cobrador. A prima e seu filho sentaram na última fileira. Ela encarou ele, porém não falou nada. Henrique João Azevedo ficou nervoso e começou a pensar se ela comentaria com alguém do primo cobrador. Enquanto isso, passei pela catraca e disse:

- Bom dia.

Ponto. Vanessa Assunção Azevedo tem 33 anos. Não é alta nem baixa, mas usa salto alto. Passa batom vermelho nos lábios para esconder os cortes feitos em brigas com o marido. Trabalha em um call-center. Está fugindo de casa pois não aguenta mais as agressões. Vai para a casa de uma colega de trabalho. A gota d'água foi o filho ter corrido para ela quando viu o pai chegar em casa. O filho nunca tinha dado um passo em pé.

Na mochila, está tudo o que o nervosismo permitiu pegar 20 minutos após o marido ter ido ao serviço. A única coisa que pensa é que não pode trabalhar mais onde trabalha. Não sabe o que vai fazer da vida. Não sabe como vai comer. Não tem família, e justamente por isso é que havia se mudado para a casa do homem que até agora lhe estendera a mão. Não para dar comida.

Espera ansiosamente o São Manoel chegar. É o segundo ônibus que pegará para chegar à sua amiga. Chegou. Vanessa Assunção Azevedo sobe e finge que não vê o motorista. Passa pela catraca e dirige-se à última fileira. O Marido levará umas oito horas para chegar em casa. Quando descobrir, ligará para o trabalho dela. Não adiantará, porque Vanessa Assunção Azevedo já terá se demitido. Já tem arranjado um trabalho no call-center da concorrência. Pensa em, um dia, talvez, ligar para o ex-marido, e, quem sabe, ver se uma mulher atende o telefone. Se atender, falará rapidamente que a mulher deve fugir, que não espere mais, que não dê outra chance porque na próxima vez não será diferente, corre, corre, eu sei o que eu falo, você merece alguém que te ame da maneira como você sonha, então foge, amanhã você faz normalmente a marmita dele e sai de casa 20 minutos após ele passar pela porta, vai para a casa da sua família, da sua melhor amiga, mas corre, olhe para seus hematomas e corra sem olhar para trás porque a vida é pequena, toda a sua angústia, a sua culpa, nada faz sentido, o que faz sentido é que você corra, não correr dele, mas correr em direção àquilo que você merece.

Pedi licença e sentei ao lado dela.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma carta na gaveta

Eu escrevi há um ano esta carta. Mas não é
Bem carta. Os meses passaram,
As letras borraram,
O sentido esvaziou.
Só me resta
Fazer do que ficou
Certo tipo de mudança.

Cortei palavras
Uni alguns fonemas.

E fiz do que queria
Um poema