domingo, 25 de agosto de 2013

irônica interminável insuportável desgastante desqualificadora e também humilhante sugadora de autoestima desestruturadora fora-de-si-e-portanto-de-mim ressaca moral, sentimental e bacanal.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

démodé

Tenho diversas encrencas com as tecnologias digitais. a maior delas é a insistência em reduzir nossa personalidade, dotada das mais diversas dicotomias e questões complexas, a um grupo de fotos de poses forjadas, dispersas frases publicadas com algum objetivo planejado (inconsciente ou não) e projeções baseadas em como gostaríamos que o outro nos enxergasse. tudo assustadoramente natural e, na mesma medida, teatral.

Consequentemente, resumimos nossas vivências, opiniões, tristezas, medos, expectativas, traumas, esperanças e posições em relação ao mundo a uma foto boba com um sorriso amarelo no perfil. embalamos tal expressão em um pacote esteticamente agradável aos olhos e o dispomos nas virtuais prateleiras deste supermercado cujas fronteiras ninguém vê. tornamo-nos palatáveis, digeríveis e simplificados. enquanto isso, o tempo passa em uma logica que ainda não compreendemos totalmente, e tudo se torna primitivo e antiquado em questão de dias. so last week. démodé. 

A pressão de renovar-se constantemente a fim de manter-se atraente perante o olhar do outro exige uma criatividade ilimitada. nossa geração é hype, é cool. todo mundo tem pinta de publicitário e de social media. sabemos o que está in e o comunicamos com fotos no Instagram do nosso ultimo prato no Consultório Culinário. na internet, somos todos engraçados, profundos e detemos uma opinião para tudo. também cozinhamos diversos pratos e somos peculiarmente intelectuais. ao ver uma foto de uma estante de livros em um quarto, me pego imaginando o trabalho da pessoa em ordenar tudo adequadamente, fechar a cortina para alcançar a luz adequada, tirar uma foto daqui, outra dali, com flash, sem flash... quanto tempo ela deve ter perdido para eu deslizar o mouse e visualizar sua imagem durante cinco segundos? quinze, vinte minutos? de alguma forma, as redes sociais nos ligaram a tal ponto que nos tornamos padronizados em nosso comportamento.

Uma vez li o desabafo de uma ex-chefe no Facebook: "não gosto de sushi, nem de frio. posso ficar aqui ainda?". acho que resume muita coisa. de tanto perseguirmos os mesmos objetivos, transformamo-nos em produtos em série. conseguimos a façanha de comercializar nossa própria identidade em uma época cuja moeda é virtual, ditada pela popularidade vapórea do numero de curtidas e compartilhamentos obtidos.

Somos um cigarro que consome a si mesmo. após a primeira tragada, lentamente descansamos em um cinzeiro acessível a todos. aos poucos as pessoas dão tragadas, sem pudor nem rancor. ao fim, o fumo se consome: fica o vazio da incompletude e a duvida: quanto valho por essas bandas? ou, mais enlouquecedor: será que consigo fugir disso?

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

aos 17

encontrei uma poesia que fiz aos 17 e achei bonitinha

Paciente, como quem
Sabe que tudo é ou será pleno,
Ama-me menos, devagar,
Para assim amar-me mais.
acho que prefiro ficção

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

a terapia

você já parou para tirar fotos de uma paisagem bonita? o que ocorre é que, atrás da lente, você sai da posição de experimentador para se transformar em observador, então não vive mais o momento visto que se distanciou para registrá-lo. você não presencia, mas analisa. a memoria cerebral não é exercitada porque no final você terá uma bela fotografia para encarnar o sentimento que supostamente sentia na hora. meses depois, você verá a foto para se lembrar de como era bonita a paisagem, quando de fato não vai recordar, mas supor, visto que estava ocupado demais em gravá-la no filme da câmera. a imagem em papel trará uma alegoria de sentimento, uma lembrança meio-verdade, meio-falsa. mil fotografias e poucas imagens mentais, pouca experiência no presente na esperança de colher os frutos no futuro. seguindo tal raciocínio,

você tem dificuldades em manter-se no presente uma vez em que é movido pela vontade de sempre ser critico e de sempre analisar tudo para não cair no senso-comum. então você se torna ansioso e precisa de cada vez mais tempo e de mais experiências marcantes para apreender a realidade a fim de tocar os seus sentidos mais profundos para viver as mais diversas epifanias que nenhum barato de uma barata lispectoriana poderia proporcionar. você busca

as pessoas mais intensas e os gênios mais complicados e nunca está contente ou satisfeito visto que nada é bom o bastante e assim você entra em um circulo sem fim no qual vive muita coisa mas nada é o bastante.

(eu olho nos seus olhos e vejo que você não tem a idade da sua carteira de identidade.)

seu sorriso é jovem e você esconde bem, mas seus olhos mostram algumas das mais profundas cicatrizes que só pessoas velhas têm. e fala com um pesar e calma que não é reservado aos jovens. você gostaria de ser mais velho?

...

você, quando conhece alguma pessoa diferente, põe-se reservado e se torna uma pessoa das mais atenciosas. porque você analisa tudo porque não consegue entrar em uma situação sem saber se vai dar em algum lugar porque as coisas para você sempre têm que dar em algum lugar, caso contrário é uma perda de tempo. além disso, você precisa ter uma direção, senão não consegue saber se está melhorando ou piorando na vida. então você analisa e se julga e secretamente julga os outros mas julga a si mesmo mais ainda. você entrou nesta sala e sentou na poltrona vermelha e sorriu e perguntou se tudo estava bem comigo antes mesmo de eu perguntar se tudo estava bem com você e em seguida ajeitou-se confortavelmente como se não tivesse nenhum medo de mim, como se estivesse acostumado a transitar por inúmeros ambientes desconhecidos simplesmente porque não houve outra opção na sua vida além de dobrar esquinas vazias nos mais escuros becos da sua consciência. então você coçou o queixo e olhou para o lado e eu percebi

que você quer estar em todos os lugares e em nenhum lugar e que você se fecha em uma concha escura de proteção e insegurança e dificilmente sai de lá. entretanto, quando sai você libera toda a energia retida de uma vez. então você se apaixona perdidamente e caso a pessoa mostre que pode lhe machucar você hesita porque tem medo de não aguentar outras feridas porque está cansado de consertar as coisas e de colocar esparadrapos e pensar que amanhã vai ser melhor porque as coisas sempre ficam melhores no futuro. então você se apega nesse ir deixando, indo, levando. vive como se estivesse sentado dentro de um ônibus, esperando a hora de descer a parada, porém no fundo desejando que a parada não chegue nunca, já que sentar ali é bom e não faz mal a ninguém. olhando através da janela você pensa em como as coisas passam e é tudo muito bonito, mas efêmero. segundo seus olhos, o mundo pode ser despido de profundos sentidos, assim como adornado de significados dos mais estranhos. infelizmente, nosso tempo

acabou, e eu gostaria de vê-lo mais uma vez nesta semana, porque seu olhar está para fora de si e daqui a pouco você vai verter diante de mim, como uma cachoeira brava que segue a lei da gravidade.