terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Minha Polaroide se despede

Esta é a última postagem do Minha Polaroide. Esse blog começou ao final de 2008, só porque uma amiga insistiu que eu o fizesse "para matar o tempo". Fiz e a ideia deu certo. Por mais de dois anos, 321 textos foram publicados embebidos em alegria e tristeza, amargura e saudade, paixão e solidão.

No começo era quase um diário para mim, porque essa era a moda à época e era o que eu tinha para me espelhar. Num dia, li uma crônica na Zero Hora tão genial, mas tão genial, que me deu vontade de escrever crônicas. Então por um bom tempo tive 16 anos e fazia crônicas. Por obra do acaso ou do destino, queria muito escrever algum texto, contudo a crônica simplesmente não fluiu. Saiu uma poesia. Horrível, é claro, mas ainda poesia. Não gostava de escrever poesias, gostava mesmo era de crônicas. Numa vez, escrevi uma crônica totalmente ficcional. Reli ela, analisei a linguagem e pensei: isso é um conto. Então passei a fazer contos. As poesias eram feitas vez em quando, mas nunca com tanto esmero. Minhas paixões tinham ordem: primeiro a crônica, depois o conto e, por último, a poesia.

Hoje, nem escrevo mais crônicas. Contos, muito poucos. Escrevo mesmo é poesia. Na maioria das vezes ficam ruins, às vezes saem coisas boas. Se fazia 12 poesias, no máximo uma era boa. Confesso que agora a proporção ficou mais justa. Preciso de menos poesias ruins para fazer uma boa. Boa para mim, é claro. Chamo de boa a poesia que ecoa por dias e dias dentro de mim. Quando estou dentro do ônibus e de repente lembro a palavra, a sonoridade, e fico horas a me deixar levar nessa maré (...basta de arrependimentos/ e de melancolias antes de pegar no sono). Essa maré que envolve carícia e desespero. Já me perguntaram tantas vezes porque escrevo, porém sempre tento evitar dar uma resposta por ficar encabulado com a pergunta, com esse valor que parece que me dão, "por que você escreve?", não sei, já vi tanta gente maravilhosa respondendo isso, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles. Eles é que são dignos de ouvir essa pergunta. Eu, não.

Para falar a verdade, escrevo porque isso me deixa feliz. Depois que comecei a escrever, aos meus 13, 14 anos, tornei-me uma pessoa mais feliz do que quando não escrevia. Ou não? Nem sei se há alguma relação. Fiquei mais feliz porque escrevia ou escrevia e, por coincidência, estava mais feliz? Não sei. Escrevi um poema há algum tempo, o seu final era assim:
Porque poetas não são frágeis
Poetas são fortes
E duros e secos
Para encarar as verdades do mundo
E colocá-las no papel
Um pouco tristes também
Posto que entendem as mazelas do cotidiano
Poetas são pessoas amargas
E para não se contaminarem
Convertem amargura em poesia
Talvez se eu não escrevesse, seria uma pessoa amarga. A gente vê tanta coisa horrível nesse mundo, às vezes dá uma tristeza, não dá?, você vê uma pessoa manipulando todos ao seu redor e parece que ninguém vê, pessoas se fazendo de vítimas para ganhar atenção, inconsciente comandando consciente e a própria pessoa se perde em toda essa (des)ilusão, vez em quando me dá uma tristeza ver do que o ser humano é capaz, uma tristeza uma tristeza que nem sei. Mas daí escrevo e parece que melhora. Parece que depois da escrita, a gente lembra que o ser humano é, sim, capaz de tanta coisa: amar o próximo, sacrificar-se em prol do outro, segurar o pranto para que o outro não grite, tanta coisa que nem sei. Tanta coisa que esse blog me proporcionou, engraçado lê-lo porque me dá a impressão de que ele é um filho que sou eu, tem como entender? Não um clone, porque hoje não sou mais aquele que publicou o texto ontem. Parece que vejo o filho de mim que já fui eu, com suas angústias e felicidades. É tão mágico, ler um texto meu aos 15 anos, parece que volto no tempo e me vejo na frente da tela do computador escrevendo, com toda aquela cabeça de adolescente. Ver a si mesmo antes: isso não tem um preço, só o Minha Polaroide pode proporcionar uma experiência como essa.

Até o momento, tenho escritas 280 poesias. Grande parte delas não existiria se não fosse o empurrão que este blog deu. Sem isso aqui, tenho certeza de que seria uma pessoa totalmente diferente. Fico muito feliz por ter comprado a ideia de começá-lo. Nunca expliquei por que o nome Minha Polaroide. É que quando tive que pensar em um nome, estava em cartaz no cinema um filme brasileiro: Polaroides Urbanas. Então veio a ideia de ter uma polaroide só minha, para passar a minha visão de mundo para os outros. Porque gostava de pensar e gostava de escrever. Aliás, esse foi o meu maior motivo por não ter largado Jornalismo na minha crise existencial que durou quase dois meses. Por mais que me dê uma tristeza olhar para as perspectivas dessa profissão, só ela enseja o meu gostar de pensar e escrever. Pois Jornalismo é isso, você vende palavras, que são nada mais do que pensamentos articulados para que outros entendam. Gosto de pensar e de escrever, então vou ser o profissional que vende pensamentos.

É pensando nesse futuro que o Minha Polaroide tem seu último post. Tenho muitos, muitos textos escritos que, por inconsequência adolescente, eram inconsequentes por essência. Tanta coisa falando do meu íntimo, do meu dia a dia, dramas familiares e de amizades, textos que não me arrependo de ter publicado, mas sei que posso me arrepender de mantê-los assim. Se fosse deletar um por um, deletaria quase o blog todo. E se é para deixar o Minha Polaroide como mera sombra do que já foi, prefiro encerrá-lo de uma vez. Não há sentido em demolir todo o interior da casa, com suas paredes, movéis, tapetes e escadas, e deixar só o exterior à vista. É melhor que se acabe com tudo.

O meu novo blog será construído passo a passo. Exagero nas tuas horas. É o nome de uma poesia publicada em um site de cultura há um tempo atrás.

Bom, acho que é isso. Obrigado a você que me fez companhia aqui, lendo todos os meus textos: crônicas, contos, poesias, devaneios, críticas à realidade, diário-blog e confissões amargas dos meus desesperos. Vou esperar um tempo para deletá-lo, pois quero salvar os meus textos. Salvar o meu passado. Muito obrigado. Espero você no Exagero nas Tuas Horas. Até lá.

7 comentários:

pedro disse...

te entendo muito, esse lance de se expor realmente é uma merda,
mas sucesso no novo blog!!

Francimare Araujo disse...

Ah Marcel.. lembro de quando conheci o Minha Polaroide, ele foi um dos primeiros a entrar como convidado na minha casa (Jovem Gengibre). Há mais de um ano que te leio, e nas suas alegria eu ria, e nas suas tristezas eu refletia o meu pensa. Essa coisa de blog é engraçado, é como um filho como você disse, e outra, a gente muda mesmo quando passa a ter um blog e escrevê-lo. Eu que o diga.. quantas mudanças!
Estarei te acompanhando, seja aqui ou no Exagero nas Tuas Horas, não importa onde for Gaúcho!

Beijos!

Anônimo disse...

os anônimos sentirão saudades, mas vão continuar te lendo.

sucesso!

Katrina disse...

Marcel, estou organizando um sarau para fevereiro, em São Paulo. Não sou lá muito boa em convidar, mas ficaria mui honrada se você pudesse comparecer ;)

Érica Ferro disse...

Iria ficar muito triste se você excluísse o blog ou, ainda, que não fosse dar continuidade em outro blog, mas já que não será assim, ficarei muito feliz em te ler na tua nova casa.

Um abraço.

Alexandra Deitos disse...

Compreensivel e digno.
O importante é estar feliz.

Parabéns pelo que nos proporcionou até aqui, muito embora lhe tenha sido algo construido em si.

Avante.
Acompanharei ainda, enquanto for interessante.

Ana Luisa Pacheco disse...

pra sempre em mim!
Cresce, meu poetinha!
Novo sucesso exagerado no teu blog novo.