segunda-feira, 9 de maio de 2011

O código da palavra

Tem gente que não precisa da palavra. Mas eu sim
Eu preciso do signo e do código
Senão não respiro
Preciso da letra e do sentido
Que gosta de vazar
E desaguar em rios de marés tortas...
A palavra é como se fosse um balãozinho
Você enche de ar e ele toma forma
É possível amassá-lo, amarrar uma ponta
À outra. Então vira cachorro
Latindo e perseguindo gatinhos
Teme a agulha, o furo e o fio fino que fia
A agulha da palavra é o grito
Porque gritos dissipam o poder das palavras
No grito todas elas são iguais
Sem qualquer distinção de importância
Não há diferença entre cachorro e galinha
No grito. Ainda mais quando tem o ódio
Que é uma palavra algoz
Mesmo sem grito, o ódio é maligno
Porque nem é preciso falá-lo
Você pensa em ódio e já é todo tomado
Pelo signo e o código.

A palavra não tem lei
Tem acordo. Entre um e o outro.
Homens de lei cedem seu bigode
Mulheres sua fúria
A fúria da mulher é o pior da palavra
Porque parece ter necessidade do grito
E grito sempre esvai a palavra
Dizia meu vozinho que já foi
Lembro de vovó gritando sempre
Porque vovô era surdo e paciente
Vovô e vovó tinham eles mesmos um trato
Só eles se entendiam...

Nunca entendi o código dos dois
Ambos morrerem e não os vi depois.

Morte é uma palavra sem lei
Ela independe de código.

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