domingo, 16 de outubro de 2011

O belo ou o feio?

Vi uma revista de moda com uma supermodel. Não lembro quem era, porque a lembrança é de meses atrás. Devia ser uma Gisele Bündchen ou alguém com reconhecimento semelhante. A questão é que ela estava feia. Muito, muito feia.

Sabe feiura? Então. Ela vestia fivelas de couro cobrindo partes importantes do corpo, um cabelo preso de uma maneira que qualquer mulher nunca usaria para sair na rua, como se houvesse ficado uma hora andando num carro conversível. Para completar, uma maquiagem que a deixava suja. Não o sujo excitante. Era o sujo relaxado. Muito, muito feia. Só que todos sabem quem ela é (menos eu, que esqueci); e sabem também que ela é muito, muito bonita. Por isso, vê-la feia em uma foto não acabava com certa aura de beleza que a modelo adquiriu ao longo do tempo.

Isso me fez pensar em que, não importasse o que pudesse ser feito, a modelo não ficaria efetivamente feia. Seria possível ficar horrível e imprimir um aspecto estético desagradável - como de fato o fez -, porém ainda assim estaria bonita. Uma ambiguidade, uma contradição de conceitos representada por uma mulher ao mesmo tempo feia e bonita, horrorosa e charmosa, suja e espetacular.

Não sei qual o conceito que há por detrás de uma fotografia que jogue com a estética, em especial o signo da estética, mais especificamente um símbolo, visto que a beleza é um acordo entre todos. Apesar de tudo, ainda fiquei pensando em que o que as pessoas mais querem é ser bonitas. Quem quer ser feio? Ninguém quer, todo mundo quer ser magro, de preferência sarado, ter cabelo liso, rosto simétrico, sem rugas ou espinhas, olhar profundo, seios ou um pinto grande. É isso o que pregam, é isso o que as pessoas valorizam e é isso o que a publicidade e a mídia mostram - e não adianta falar que a publicidade "sugere" esses valores, visto que uma ação publicitária só faz sucesso se agrada a população, e sabemos que a sociedade gosta daquilo que já viu, não do que é novo (alô, Indústria Cultural).

A modelo que vi na revista de moda alcançou a beleza que todos desejam. Mais do que desejam: de alguma maneira obscura e inconsciente, invejam. Depois da conquista, ela pôde se dar ao luxo de ser feia. E isso eu achei engraçado, porque cultivamos entre todos uma ambição inquietante, um consumismo desenfreado, quanto mais, mais. Não entendo qual o conceito de fotografias como esta de que falo (se alguém souber, me diga), porém acho engraçada essa maneira de cutucar uma ferida que está aberta no dia a dia de todos. A mulher, de tão bela, desdenhou a beleza.

Quem se atreve a se abster de uma característica incutida de um enorme poder? Beleza hoje é poder. É beleza e informação (alô, Rüdiger). Mas informação não atrai a maioria das pessoas. Queremos para nós companheiros bonitos E inteligentes, não apenas um ou outro. E nós, somos o quê? Somos bonitos? Somos inteligentes? Até que ponto usamos o outro para suprir uma carência nossa? Um deslize de nosso ego?

Dias atrás eu disse que no final tudo são pessoas.
Hoje digo que além de pessoas
No final tudo é ego.

Que freudiano da minha parte...

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