quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

a grama do vizinho

a grama do vizinho é mais bonita porque de onde a gente olha, é impossível ver as falhas do terreno, os lugares onde pisaram e a grama morreu, os montes de terra, o cocô do cachorro. como o mundo é injusto comigo! a vitimização é sempre o caminho mais fácil, na medida em que nos tornamos passivos em relação ao ambiente e as causas fogem do nosso controle. no entanto, também é uma situação perigosa, visto que tiramos de nós mesmos o protagonismo de nossa história. e qual o prazer de relegar aos outros a escritura de nosso livro?

em Kafka on the Shore, de Haruki Murakami, há um trecho genial sobre a forma como encaramos a vida. "My grandpa used to say things never work out like you think they will, but that's what makes life interesting, and that makes sense. If the Chunichi Dragons won every single game, who'd ever watch baseball?". qual seria a graça de viver se tudo fosse sempre como planejado? difícil de pensar isso quando estamos sofrendo em determinado momento. entretanto, a médio e longo prazo, a construção de nossas memórias formam uma complicada rede de experiências que, em grande medida, valorizam-se em virtude dos obstáculos pelos quais passamos. ser mártir de vez em quando faz bem, porque nos ajuda a valorizar os momentos em que somos apenas humanos normais.

mês que vem faço 21 anos e me torno legalmente independente. pouca coisa vai mudar. passarei por uma crise? ou meus dramas diários me pouparão do sofrimento?

momentos de tautologia.