quarta-feira, 23 de maio de 2012

uma constante




necessidade de doer em alguém como se apenas com a expressão do outro fosse possível registrar uma real importância de nós mesmoshoje falei com voluntários de asilos e eles diziam que para os velhinhos é de suma importância ter alguém com quem possam dialogar, ver e serem ouvidos. sem isso, ficam sem qualquer autoestima e não veem a vida valer a pena.


nós, sejamos velhos ou novos, vivemos nesta necessidade de ressoar no olhar, voz ou pensamento de alguém. precisamos do amor dos pais, da família, de amigos e de algum namorado ou namorada. caso algum destes campos não seja normalmente preenchido, entramos em uma loucura neurótica freudiana e nossa personalidade sai à procura de algo para repor esta perda de afeto. 


usamos muletas, pessoas, objetos. comemos demais, seduzimos consciente ou inconscientemente o outro para que goste de nós ou que a nós destine atenção, utilizamos roupas para sermos distintos sem, contudo, tornarmo-nos diferentes. precisamos instaurar certos limites - isto é, não gosto desse tipo de música e de filme, então não faço parte desta massa "amorfa". entretanto, por favor, não me considerem excêntrico demais a ponto de não quererem se aproximar de mim...


morremos de medo de muitas coisas: de não sermos bem-sucedidos, de não atendermos às expectativas de nós mesmos, da família, dos amigos e, pior, de desconhecidos. tememos ser iguais aos outros, passarmos despercebidos, não termos uma vida absurdamente excitante, cheia de grandes experiências marcantes que comprovem que nossa vida valeu a pena. hoje, tudo precisa valer a pena, caso contrário... não valeu a pena. o tempo de ócio não pode existir - precisa ser aplicado em academia, yoga, línguas, aulas e o que mais nos torne competitivos para o "mercado" - seja de trabalho, seja esta concorrência maluca na qual nos inserimos no cotidiano. 


ninguém pode ser triste. ninguém pode estar triste. se está, todos correm para indagar por que e passam a fazer macaquices para que a tristeza vá embora. ela, contudo, precisa ir embora? agimos como se a expressão normal do cotidiano fosse a felicidade, como se nosso estado normal fosse isso. entretanto, efetivamente somos felizes o tempo todo? diariamente nos decepcionamos conosco, com o outro, com as aulas, trabalho, família, dinheiro, enfim, com tudo o que ronda nossa vida. tudo isso faz parte de nós, pois podemos estar tristes com alguma coisa e feliz por outra. nós podemos gostar da felicidade. mas da tristeza também. e da melancolia. e da euforia. da efusividade, da emoção, do choro, do drama, da perspectiva, da expectativa, do sonho e da realidade - enfim, sentimentos que refletem nosso ser e nos fazem refletir sobre. 


sonhamos com cotidianos impossíveis de serem alcançados, criamos metas que não podem ser batidas e continuamos neste jogo de máscaras no qual sabemos que ninguém é feliz o tempo todo, porém precisamos aparentar em nossas fotografias, mensagens, sorrisos e artificiais observações sociais esporádicas. e assim vamos construindo tijolo de expectativa sobre tijolo da expectativa, até criarmos um muro em volta de nós mesmos que não permitirá qualquer contato com o mundo real - somente um sonho difuso e neurótico de uma vida perfeita e vazia.

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