domingo, 12 de agosto de 2012

diálogos


"Como você pôde entrar? Eu não estava
sozinho!". Estamos simplesmente cansados de nos martirizar.
Queremos algo além de alegorias e feitos heroicos.
"Há este espaço vazio
que insiste em consumir mais fogo". Queremos menos pressão
e mais sinceridade.
"A sala de estar não é a mesma
sem suas fotografias. Sem a sua moldura
vazando meu rosto
e dando forma e conteúdo ao abstrato". Faltando
palavras, gestos, cores. Como quem escreve
para dar nome aos bois. "Você gosta de carne?"
"Não. Desde pequeno eu rejeitava
os pedaços no carreteiro de sábado.
Decerto é por isso que não cumpro
qualquer das minhas decisões". E eu, que jamais pude segurar
uma corda que pudesse amarrar
este demônio de dentro? Que solta fogo e sacode
quem toca e quem ama. "Às vezes o tempo urge
como monstro. Quando da hora de acordar
e queremos dormir. E no sonho
acordamos bem cedo. E no final não".

No final é sempre não, ele me diz.
E me toca o coração, gentil. Repete que não é passageiro
Que tudo o que passou, passou
Que hoje é diferente e diz que sim.
Faz de tudo pra mim
Como se a vida fosse regalos.
Faz sentido eu inseguro? Temer
Perder tudo que tenho...
Como uma criatura masoquista louca
A achar que não merece nada.
Porém eu quero sempre mais.
Os milagres não me satisfazem.
Entre o muito e o bastante, quero o mais um pouco
Além do limite. Assim me transbordo
E me contenho
Até o mundo acabar
Ou alguém dizer que sim
Para cessar este desejo
De concertar as faltas
Que revejo
Na desordem do mundo que invento
No universo da minha cabeça.

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