segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mulheres

Marina Colasanti   

    Às seis da tarde
    as mulheres choravam
    no banheiro

    Não choravam por isso
    ou por aquilo
    choravam porque o pranto subia
    garganta acima
    mesmo se os filhos cresciam
    com boa saúde
    se havia comida no fogo
    e se o marido lhes dava
    do bom e do melhor
    choravam porque no céu
    além do basculante
    o dia se punha
    porque uma ânsia
    uma dor
    uma gastura
    era só o que sobrava
    dos seus sonhos.
    Agora
    às seis da tarde
    as mulheres regressam do trabalho
    o dia se põe
    os filhos crescem
    o fogo espera
    e elas não podem
    não querem
    chorar na condução.


Para que minha vó fique bem.

2 comentários:

Ana Luisa Pacheco disse...

Como sempre me lembrou um texto meu, velho, assim:
(Eram nove horas da manhã, e eu tentava te ensaiar um bom dia cheio de promessas e planos enfeitados na minha cabeça. Eu nunca pude te dizer muito. Mas eu conhecia bem a paciência. Eram dez horas da manhã, e fiquei olhando para o telefone procurando o seu sorriso em uma ligação despreocupada. Mas eu entendia do silêncio. Quando a tarde passou com as ocupações, quando pelas ruas eu te via junto a mim, logo ao meu lado, eu me senti bem, mesmo sozinha. E a água da torneira escoando pelo ralo, o som abafado das vozes quando se pula paro o fundo da piscina, a chuva do lado de fora do seu quarto pequeno, ou a maré que sempre tende a correr para o nada, diriam por nós. Mas eu cansei de exemplos. Eram onze horas da noite, e eu ainda queria ter dito bom dia.)

Gostei do post, achei maduro. Simples, e não é sempre que o simples é pouco.

Alexandra Deitos disse...

Quando se chora na condução a fraqueza torna-se domínio público e o resto de dignidade se mistura com mais lágrimas, fazendo da dor uma massaroca indigna.