quinta-feira, 21 de julho de 2011

Autorremissão

Hoje li nossos e-mails. Queria dizer, olha. Dói tanto. Desejaria que a soma das palavras resultasse em uma maior quantidade de amor que você tem por mim. Mas amor a gente nem conta, então não sei. Eu hoje cheguei à conclusão de que palavras não valem nada. Você me mandava textos cheios de afeto e cariño. Tinha especial predileção por aqueles com histórias de nós ao redor do mundo. Eram promessas, entretanto eu sabia serem apenas histórias, visto que tudo que é prometido não passa de amor ao que não existe.

Queria dizer, olha. Dói tanto. Descobri que palavras não valem nada. Você as usou e os sentidos aguaram. Você me usou e hoje leio seus e-mails em que você dizia que me adorava no reflexo da janela de manhãzinha, de preferência às nove. Tenho vontade de dizer a todos os seus íntimos que você não entende de língua portuguesa. Compreende o significado de janela? A palavra reflexo. Letras são bobas e queridas quando fazemos sons de bebê, porém ao se unirem em busca de um sentido correm o risco de serem manipuladas. Elas se vendem para que consigamos entendê-las. Você não foi afável com quem lhe ajudou.

Eu poderia ser teatral e dizer que só defendo as palavras a fim de esconder uma profunda ferida que chama a atenção para quem olha em direção ao meu peito, mas só consegue ver o outro lado, como se eu fosse um tronco de árvore onde habitasse um casal de passarinhos fugindo de um inverno rigoroso. Dentro de mim emanasse um pouco de calor, usado para aquecer um pingo de vida que voa por aí. Queria dizer, olha. Dói tanto. Inverna lá fora, mas ainda mais aqui dentro. A soma das letras não me diz do seu amor, contudo minhas palavras podem lhe dizer um pouco do meu gelo.


Não o afeto, mas o inominável,

Fernando.

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