sábado, 9 de julho de 2011

Mentira

Nenhuma experiência é absorvida da mesma maneira no mundo, visto que um fenômeno é sempre apreendido por meio dos sentidos. Neste processo de captura, a mediação feita por nossa subjetividade sempre interfere no processo final de entendimento de um fato - isso se crermos em que todo o conhecimento só é válido se vivido factualmente, por meio do tato, olfato, paladar, audição ou visão. Poderíamos dizer que há processos extracorpóreos de vivência, mas passaríamos enfim a acrescentar a telepatia ou a projeção astral como métodos de adquirir experiência. Alias, por que não? Esperamos o surgimento de alguém que prove isso cientificamente...

De qualquer maneira, se a cada fenômeno é atribuído um sentido, e existem bilhões de pessoas, cada uma com uma história de vida formulando uma subjetividade, então há bilhões de sentidos espalhados pelo planeta. O que é difícil de entender é que a verdade é um consenso entre a população, visto que a realidade não pode ser inteiramente conhecida. Só que como formular um consenso se cada um absorve um fenômeno de cada maneira e, portanto, constrói a verdade de um jeitinho diferente? O mundo é uma bagunça? Fico um pouco perdido ao pensar que a realidade só seria um fim alcançado no momento em que todo o conhecimento do mundo estivesse evidente a todos, restando, assim, todas as noções de realidade disponíveis para se formular um conceito do que não é irreal. A verdade que temos das coisas nunca engloba todos os pontos de vista possíveis, então é sempre tendenciosa para algum lado. Ainda por falta de informação, corre o risco de ser uma mentira.

E se não pensarmos em tudo isso e nos contentarmos com a possibilidade de mentirmos o tempo todo? Pior ainda: conformar-se e gostar do que temos, achando que já é válido. Tenho imensa admiração por pessoas que procuram mudar o mundo porque, de alguma maneira, me dizem que no fundo sabem que o que temos é uma verdade deveras falsa. O presente nunca vai ser realidade, porque nascem várias pessoas trazendo consigo diversas apreensões do que é real. O real pertence ao futuro.

Todos vivemos em uma ficção.
Escrevo porque penso que isso me ajuda a fugir da mentira.

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