segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A lua e o lobo

há um ditado em francês
la nuit porte conseil
algo como
a noite traz conselhos
pois após termos dormido
as dores não doem como doíam 
na noite anterior

a noite porta conselhos
e ditados cheios de graça
como se bela fosse de raça
com uma lua cheia de sabedoria
que de tanto saber engordou
e de tanta solidão e melancolia
acordou de sonhos terríveis
de fogo. de primeira fase.

e um jovem lobo acorda em todas as noites
e olha para a cascata do conhecer
se indaga entre uivos e recaídas
a validade do erro e do acerto
o acidente de viagem e o naufrágio.
o rosto humano. 

de repente ela emagrece
o lobo uiva e a bola se aquece
a lua toda se enfurece
como chuva de espinhos de gelo
e os homens que ficam lá embaixo
escondem-se nos braços dos outros 
a fim de proteger-se do corte. da Morte.
só que a lua faz nada e aguarda em seu tempo
ciente como velha anciã
de que a sabedoria lhe desvenda muitas mentiras
porém o maior enigma de suas fases
não é a forma como brilha no escuro
mas a maneira como reflete na Terra.

(nos olhos de lobos em guerra...)


*
esse poeminha foi construído de forma a fazer uma ligação entre dois personagens: a Lua e o Lobo. não fiz referência ao sono e aos sonhos, que de alguma forma trazem respostas aos nossos dilemas, mas deleguei tal missão à noite e a sua maior arma - a Lua. a noite representa o infinito, a impossibilidade de encontrar um limite, ao mesmo tempo em que, na sua ausência de barreiras, pode agregar as mais brilhantes estrelas quanto os mais perigosos asteroides. isto é, ao mesmo tempo em que o não saber - o Futuro - pode representar possibilidade de felicidade e segurança, pode também traz tristezas e arrependimentos, visto que nada é certo, nada é definido (nada tem um limite).

a Lua representa a passagem do tempo (por meio da alusão às fases por que passa). vivido em quantidade e intensidade, o tempo implica acumulação de sabedoria e de vivência para lidar com as angústias diárias. o Lobo, enquanto encara o satélite se imaginando com experiências para solucionar as questões que lhe atormentam durante a noite, também se resigna com sua pequenez e ignorância. ele então se projeta na Lua e deseja ter a grandeza dela para fazer com que os homens na Terra sofram da forma como ele sofre. por fim, o satélite natural é sábio: não atende ao pedido do Lobo e apenas observa o mundo dos lobos (ou homens?), com a maturidade que lhe é incutida. 

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