quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Este Frio da Cidade de Porto Alegre

Eram dois no banco da praça:

meu amigo que vieste fazer neste banco da praça num inverno rigoroso como este num banco que até então somente eu ocupava meu amigo se aprochegue que o frio espanta tudo mas não espanta o aconchego sim meu amigo eu não te conheço mas já sei que és meu amigo por sentares neste banco de praça num inverno rigoroso eu uso luvas e tu não não queres uma das minhas luvas homem bem sabes que neste frio de porto alegre morrem células que aos poucos degeneram tecidos afetando sistemas que nos levam ao hospital este frio de porto alegre não poupa rico ou pobre e bem sei que és pobre por não usares luvas sim

com licença eu andava por esta praça neste frio da cidade de porto alegre e o padeiro fez um preço muito caro pelo café e reneguei o café de um padeiro que não fez nada demais além de encarecer um preço de café eu gosto de café mas não dos cafés caros não tenho luvas porque as luvas não me deixam pegar na xícara onde servem meu café eu gosto de creme mas não muito me disseram que tenho diabetes pobre é sua mãe
 
Mais um homem no banco da praça:
 
olá meus caros vocês viram que uma tartaruga comeu uma pomba agora neste frio da cidade de porto alegre as pombas parecem ter desaprendido a voar com este frio talvez tenha caído neve nas suas articulações sim sim eu tambem gosto de café mas acabei de ver uma tartagura comendo uma pomba onde esse mundo vai parar primeiro enchentes depois terremotos agora tartarguras que comem pombas esse aquecimento global sim já disse que gosto de café esse aquecimento global
 
Outro homem senta no banco da praça:
 
Ei, cês têm um dinheirinho pra mim tomá uma cachaça?

café

Primeiro dois:
e mais um
e mais um

Muito café
espanta o frio
mas não assusta o medo
que tinhas de desaparecer
no inverno que encobria pombos tartarugas

Eu também temia
sôfrego e trôpego,
numa Porto Alegre fria,
onde quatro homens sentados num banco de praça
não são visados:
(não existem)
vivem numa consistência duvidosa

Eu também sou humano
E sinto frio e fome e sono
numa Porto Alegre fria

É no anonimato
que o perigo se esconde,
é num breve hiato
que meu viver tem onde
se quedar
neste silêncio que fere
 mais do que
muitos gritos

Um inverno
o dia todo todo dia
um aconchego
numa Porto Alegre fria.

3 comentários:

Marcelo Mayer disse...

não só a cidade, as pessoas tb.

Jubi disse...

eu passo frio, porque não tomo café.

Ana Luisa Pacheco disse...

nem mesmo o calor de um corpo humano.