segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vida

vivendo
e
aprendendo
a
viver
sem
saber
o outro lado
(tá tudo meio
vago)
vou
andando
e fico meio
claro
perante
o escuro

acho que é o futuro

domingo, 29 de agosto de 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Apenas umas lascas pelo canto


Já eram quase seis horas da tardinha e eu saí de lá. Andei pelo Centro, e aquelas pessoas sem rosto olharam pra mim: eram todas pessoas com rosto mas agora tento me lembrar e não consigo. Quando sonho, as pessoas que vejo são aquelas que vi na rua ao longo do dia, posto que o inconsciente não inventa faces, apenas nos apresenta as já vistas. Acordado, não vejo aqueles rostos, mas sonhando, sim. Queria sonhar acordado de: verdade, não na expressão que se usa, porque veria de novo os rostos que não vi e então imaginaria uma identidade para cada um. Andei pelo Centro e quando me dei conta,
                estava no Cais do Porto. Pensei em sentar na beiradinha e balançar meus pés, porém lembrei que agora colocaram grades e só dá para ficar próximo a elas. Assim a gente fica longe d'água e não corre risco, e assim a gente fica infeliz. Cheguei naquele corredor gigantesco e vi um navio que para mim era grande, não sei se para outros também, talvez: outros navios riam da pequeneza dele. De qualquer jeito era navio. Tinha duas cores, dividas por uma linha, a de: baixo era vermelha, e a de cima, azul-escura. Uma comporta estava aberta, e dali caíam litros e litros de água, que caíam também em cima de duas cordas grossas que o amarravam ao cais. Em sua frente, havia um barquinho pequeno pequeno, com alguns homens fazendo algo que sei lá. Um estivador passou, e eu: perguntei se poderia subir no navio, só pra ver como é, nem fico muito tempo, até fico com o senhor... porém ele disse que só quem trabalhava poderia subir. Fui embora chateado, chutando uma pedra que estava por ali. Saí do Cais
                                com aquele negócio meio quadrado meio triângulo nos pés, que girava e girava pronde eu quisesse que fosse. Numa hora, dei um chute forte, e se
Lascou.
A pedra se despedaçou.
foi aí que percebi que existem diferentes tipos de pedras por aí. Pedras perdem pedaços, mas é só para que fiquem mais redondas e possam deslizar melhor. Algumas não gostam de perder lascas, mesmo sabendo que depois ficam mais redondas e giram mais fácil. Estas pedras são as que mais atrasam o jogo, porque talvez nunca mudem de opinião talvez: sejam sempre não-redondas. Vez em quando, todo o tipo de pedra passa por poças d’água. Algumas: reclamam por terem se molhado, e outras ficam felizes por se refrescar. Algumas pedras têm o azar de rolarem em merda. Essas são as mais azaradas mas: também sortudas, porque depois da merda podem aprender a reconhecer como é bom estarem limpinhas. Pena que algumas pedras ficam sujas mesmo limpas e pena: que algumas pedras fiquem sempre na merda, por escolha própria e sem saber. Eu
                               Sou uma pedra, mas não sei
Por quem eu sou chutado. Não sei
                               Se quero ser cuidado.
                               Hoje perdi uma lasca pela rua, e
                               Me doeu muito.
                               Mas agora estou mais redondo,
                               E talvez um pouco mais tratado.
                              
Chutei a pedra por mais de oito quadras, e ela não ficou redonda. Acho que se ficasse chutando por um tempo infinito, ela teria ficado. 
Acho que se viver até o infinito, dá para deslizar mais fácil.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mulheres

Marina Colasanti   

    Às seis da tarde
    as mulheres choravam
    no banheiro

    Não choravam por isso
    ou por aquilo
    choravam porque o pranto subia
    garganta acima
    mesmo se os filhos cresciam
    com boa saúde
    se havia comida no fogo
    e se o marido lhes dava
    do bom e do melhor
    choravam porque no céu
    além do basculante
    o dia se punha
    porque uma ânsia
    uma dor
    uma gastura
    era só o que sobrava
    dos seus sonhos.
    Agora
    às seis da tarde
    as mulheres regressam do trabalho
    o dia se põe
    os filhos crescem
    o fogo espera
    e elas não podem
    não querem
    chorar na condução.


Para que minha vó fique bem.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Da Série do Tempo

Eu: ainda é tempo de reconstruir
Ela: ainda tem tempo pra se construir
Nós: tem tempo pra se destruir
Tem tempo
Muito tempo
Tenho passado tanto tempo sem ter tempo
De pensar no tempo que deixei
De passar
Com tua pessoa.
Eu: ainda é tempo de se fazer mostrar
Ela: tenho muito tempo
Eu: tempo pra nós dois
Ela: tempo pra depois.

Gosto de pensar no tempo que não existe mas: por estar na minha cabeça já se mostra em minha presença e já parece existir há tanto tempo que este tempo se confunde com o tempo de pensar. E assim se fazem dois tempos, o Tempo Em Que Penso e o Tempo Que Passa. Ambos são amigos e ambos parlam por aí: este Aí que efetivamente é minha cabeça e atualmente se mostra como casa pois por que não os abrigar e por que não se mostrar receptivo? (Ao tempo de nós dois).

Tempo, diz assim
Conta agora
Minutos e segundos
O Tempo diz pra mim que
Não quer pensar.
Tempo, te respeito,
Não fazes o que não quiseres, mas garanto
Que ao passares por mim,
Hás de falar:
Que o tempo que passou é
Aquele que virá.
O tempo que torna
A se acabar.

O tempo que parece não passar.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Há algum tempo atrás

Há algum tempo atrás
tem havido muito tempo, mas bem
atrás de você
tem corrido uma sombra
que parece perseguir
o tempo
que parece que
passou.