quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Chamada em espera

É uma sede muito grande enquanto toca o telefone, apesar de ser mais importante o fato de pairar na sala a vaga ideia de quem poderá ser no outro lado da linha. Súplicas de vontade para que seja engano. Oba, parou de tocar. É daqueles momentos em que o sentimento de eternidade se apossa de braços e pernas nos fazendo desejar que todos os carros parem, junto com todas as pessoas, se possível o planeta também. Tudo estático para que nosso movimento pareça algo grande. E o telefone soe a coisa mais distante do mundo, visto que parece tão desgastante isso de alguém requerer nossa presença. A máquina berra e a gente correndo para atendê-la.

O mundo vez em quando me soa algo muito do pessimista. A professora diz que jornalista tem que amar a realidade. Quem não ama, escreve ficção, e quem escreve ficção não tem que fazer Jornalismo. Opa, reitera. Pode fazer Jornalismo, mas não é pra escrever ficção e fugir da realidade. Como se fosse uma droga? penso. Querida ela. Na verdade não. Estou sendo falso? Ou melhor, pensei agora que é uma coisa muito engraçada quando uma pessoa acusa alguém de falso. Porque a boa educação preza para que sempre cumprimentemos, sorriamos e sejamos simpáticos com quem quer que seja. E fulano não gosta de mim mas fica me dando oi. Então é para ser o quê? Assim me parece que a acusação de falsidade tem mais a ver com um leve rancor dado que o suposto falso não gosta daquele que o acusa. Então se tenta desestruturar aquele que pode não gostar de mim, implicando em mostrar que ele não é qualificado o bastante para que relevem sua opinião a meu respeito.

Ou seja. A vida é uma coisa muito da pessimista. Lembro que o telefone toca, já estou de pernas pra cima do sofá mas me dá vontade de derreter como se me transformasse em um banho. Sabe o banho? que escorre pelo ralo. O dia às vezes não é tão ruim, que chega a nos dar vontade de apenas escorrer da rua até a nossa cama? Nesses momentos, penso que a gente quer ser banho. Toda a sujeira e as lembranças ruins escorrendo pelo box. Enquanto isso o telefone toca. Só que ninguém tem vontade de atender. Estou sozinho em casa, há mais de seis meses.

Nenhum comentário: