sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Uns dias atrás, eu almoçava em um restaurante até que uma mulher sentou na mesa ao lado e pediu uma água com gás. Passaram dois minutos e veio o garçom. Abriu a garrafinha, colocou o copo de vidro na mesa, encheu-o até a metade e saiu. A mulher ficou parada, com os dedos na borda do copo, mexendo e olhando pros lados, sem prestar muita atenção. O gás da água subia em várias bolhas pequenas, devagarzinho iam à superfície; a mulher, sempre mexendo a borda como se posasse para uma fotografia.

A cena não tinha nada de especial, não. Mas gravei em mim as bolhas que subiam na água do copo, enquanto a mulher nem percebia. Nos últimos tempos, parece que também estou sentado em algum lugar, esperando algo acontecer, sem saber como me portar. Daí peço uma garrafa de água e espero, faço nada, olho pra janela, apoio o cotovelo na mesa, o queixo na mão e fico brincando com o copo. É um estado de latência, como sentar no ônibus e desejar que nada mude nunca, a paisagem vai trocando e de vez em quando ajeitamos a bunda, desejando no fundo ficar até a eternidade com a cabeça apoiada na janela, pensando em coisas que inexistem e sentidos que fazem falta. Enquanto via o gás subindo no copo da mulher, percebi que ultimamente espero que suba para a superfície qualquer coisa que nem sei, porque é como se estivesse parado no tempo, com metade de mim afastada. É como um vazio. Só que não dói bom, porque não extraio nenhum sentido de tudo. E de que adianta vazios se não dá para tirar nada deles.

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